sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Aracati: Fonte de equilíbrio

Projeto Remar promove a prática de stand up para pessoas com limitações físicas e intelectuais. O trabalho acontece na Lagoa do Colosso com apoio de voluntários

Os olhos podem não ver, as pernas podem não sentir e a cabeça pode não estar no mesmo "tempo" que o da maioria das pessoas, mesmo assim nada é empecilho para um grupo se aventurar nas águas da Lagoa do Colosso. Todas as quartas-feiras, bem cedinho, eles começam a chegar ao local para praticar o stand up, modalidade esportiva que integra o homem à natureza. A iniciativa é do Projeto Remar que, graças aos voluntários, promove saúde, lazer, estímulo e socialização.



À beira da lagoa já é possível perceber o grau de independência e liberdade dos participantes: uma cadeira de rodas e um par de muletas são trocadas por uma prancha, um remo e um desejo enorme de se superar nas águas doces da lagoa. O cenário é perfeito e o clima propício para trabalhar a mente e o corpo, principalmente daqueles que enfrentam diferentes tipos de limitações.


'No tempo de Deus'


Um dos integrantes do projeto é Elione Sousa, 31 anos, o Aracati, como é mais conhecido. Ele perdeu a perna esquerda e, por pouco, não perdeu a vida num acidente grave de motocicleta ocorrido no Carnaval de 2010. Após beber todas, como ele mesmo admite, subiu na moto para pilotar. Não deu outra! O prejuízo físico e emocional foi inevitável. Por outro lado, Aracati conta da transformação em sua vida.


"Eu era sedentário, vivia na farra e não media as consequências. Hoje, eu respiro esporte 24 horas por dia, sou um triatleta", revela com satisfação e brilho nos olhos verdes de esperança. Claro que para chegar até aqui passou por um tempo de tratamento, reabilitação e treino orientado pelo professor e especialista em psicomotricidade, Vicente Cristino, que o acompanha por meio dos serviços oferecidos pelo Núcleo de Atenção Médica Integrada (Nami) da Universidade de Fortaleza (Unifor).


De segunda a sexta-feira, Elione fica em Fortaleza, na casa de uma irmã. Depois, segue para a sua cidade, Aracati, onde mora a esposa e o filho de 9 anos. Uma de suas expectativas é conseguir a prótese, mas ainda está na fila de espera. Enquanto isto, vai preenchendo sua vida com as diferentes modalidades de esportes, incluindo aí o stand up, onde desenvolve melhor o seu equilíbrio. "Eu perdi um membro, mas ganhei outras oportunidades. Minha vida hoje é muito melhor. Tudo acontece no tempo de Deus", finaliza.


Cristina Pioner
Redatora




Fonte: Vida – Diário do Nordeste (01/ 02/ 15)

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