Destino turístico
conhecido internacionalmente ainda precisa de rodovia em condições normais
Aracati. Há mais de 10 anos vem sendo construída
a Ponte Juscelino Kubitschek, na BR-304, sobre Rio Jaguaribe. A conclusão do
projeto total ainda continua sem prazo definido. A antiga ponte, que foi
erguida originalmente há 53 anos, continua ao lado do novo projeto, mas também
ainda não teve a restauração concluída. Trata-se de um projeto de infraestrutura
que já teve tem muitos começos, meios, mas ainda não se sabe quando terá um
fim.
Trechos novo e antigo sobre o Rio Jaguaribe ainda inacabados Fotos: Elle
Freitas
Depois de 20 anos de discussão e comprovação da necessidade de reforma e
ampliação da sua estrutura, hoje, uma das principais obras do Litoral Leste se
encontra inacabada. Todo o contexto teve início há mais de 20 anos, quando
começou a ser questionada a necessidade de reforma da ponte, inaugurada em
1959. No ano de 1999, um relatório foi entregue ao antigo DNER, constatando ser
preciso construir uma nova estrutura, além da reforma e alargamento da obra
anterior.
No início, a reforma gerou uma certa apreensão nos moradores da comunidade de
Pedregal. Segundo conta a educadora Jocélia Ribeiro, integrante da Organização
Popular de Aracati (OPA), não houve reunião com a população para discutir a
obra e os impactos que ela poderia trazer para comunidade, além de como ficaria
a regularização fundiária que ainda pende na Justiça. A comunidade de Pedregal
possui cerca de 5.500 moradores, mas nenhum tem escritura da terra, já que o
espaço foi ocupado durante os anos de cheia (a primeira em 1964), onde muitos
acabaram permanecendo. No total, três empreiteiras tiveram seus nomes
envolvidos na obra, mas duas participaram efetivamente da construção da ponte.
Primeiramente a Delta, em 2002, e a Heleno e Fonseca depois, em 2006. Ambas não
conseguiram cumprir nenhum dos seus prazos.
Diante de denúncias sobre irregularidades, o andamento da obra vem se arrastando
há mais de 10 anos. Hoje, só a placa "trecho em obras" permanece como
indicativo de que o trabalho não foi concluído.
Só em fevereiro de 2011, uma parte do trecho foi liberada para tráfego na ponte
nova, ficando a antiga interditada até hoje.
Jocélia, como todos os moradores de Pedregal, não fazem a menor ideia do que
falta para ser concluída a tão esperada ponte. "Dizem que já foi feito
80%", afirma ela, na esperança de achar que o fim do transtorno esteja
mais perto do que longe.
Transtorno sim, para moradores que enfrentam as inseguranças geradas pelos
desserviço dos gestores públicos. A moradora ainda tem esperança de que a obra
possa ser concluída até meados do ano que vem. "Todos nós aqui
consideramos uma obra eleitoreira. No próximo ano haverá as eleições para
deputados, governador e presidente, e creditamos que eles concluam esse
trabalho", conta Jocélia.
Ela também colocou que, neste ano, a Superintendência Estadual do Departamento
Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) visitou o local para avaliar a
situação. "Ficamos sabendo, em uma reunião com a prefeitura, que até o
final de setembro eles estejam retomando a obra".
A obra da ponte na BR-304 é uma das mais importantes do Litoral Leste. Além de
oferecer uma melhor estrutura para os turistas que visitam a região, é um dos
melhores acessos ao Rio Grande do Norte. A obra está avaliada em mais de R$ 30
milhões. Para o presidente da Cooperativa de Transporte em Fretamento e Turismo
no Litoral Leste (Cooptema), Romildo Silva, a não conclusão da obra é uma
vergonha para cidade, já que Aracati é um destino reconhecido
internacionalmente.
"Nós fazemos quase que diariamente o translado de turista da Capital
cearense para o nosso litoral e, infelizmente, nós enfrentamos condições
precárias de rodovia. Temos que ficar muito atentos porque há trechos que são
muito perigosos", lamenta.
Durante dois dias, a reportagem tentou obter junto ao Dnit informações sobre a
continuidade das obras da Ponte JK, que estão paradas. Obtivemos a seguinte
resposta por e-mail da assessoria do órgão: "Estamos dependendo das
informações da área técnica da SR do Ceará. Ocorre que os servidores estão em
greve em todo o Brasil, desde o dia 25 de junho e o superintendente está em
viajem, mas já recebeu o pedido ainda ontem".
FIQUE POR DENTRO
Idas e vindas do projeto causam transtornos
Em 2000, aconteceu a primeira licitação para restauração e duplicação da ponte
Juscelino Kubitschek (R$ 11 milhões). Em 2001, foram liberados R$ 7 milhões,
mas a obra foi paralisada por falta de licenciamento ambiental. Depois de
concedida a licença, empresa desiste da obra. No ano seguinte, em 2002, são
liberados os outros R$ 4 milhões e obra é novamente paralisada por "falhas
contratuais". Em 2005 são alocados R$ 10 milhões para duplicação, ao cargo
do Exército Brasileiro, que desistiu. Em 2006, o Dnit anuncia obra em 18 meses
e custo de R$ 29,2 milhões. Em 2008, há vistoria, denúncia do MP e reinício das
obras. Em agosto de 2010, Dnit diz que ponte seria concluída no fim daquele
ano. Em 2011, a nova ponte é liberada para o tráfego, mesmo sem oferecer
segurança.
Moradores pedem mais segurança
Aracati. A obra inconclusa na Ponte Juscelino Kubitschek tem gerado muitos
transtornos paraos moradores da comunidade de Pedregal, que vem sofrendo principalmente
com a falta de segurança. Todos os sábados, a dona de casa Juliana dos Santos
Bezerra realiza o mesmo trajeto: sai do Centro de Aracati de bicicleta até a
comunidade de Pedregal para visitar sua mãe. Para isso ela, assim como milhares
de pessoas, precisa cruzar o trecho de 466 metros da nova Ponte JK.
Parte da obra foi liberada sem estar concluída. Faltam barras de proteção no
passeio, iluminação pública e o fluxo no trecho é perigoso, pois misturam-se
ônibus, carros, motos, bicicletas, além dos pedestres. O risco de acidente é
frequente
O trajeto não é tão longo, mas oferece inúmeros riscos. "Disputamos espaço
com gente a pé, de carroça, motos tipo mobilete. Se não cuidar, a gente acaba
batendo em alguém", conta. Isto porque parte da obra foi liberada sem
estar concluída. A necessidade de desafogar o trânsito era bem maior. Os
motoristas chegavam a aguardar até duas horas na fila para cruzar a ponte.
A nova parte da ponte foi entregue sem as barras de proteção no passeio, para a
travessia segura de pedestres. No lugar, pedaços de madeira e uma rede dão uma
falsa sensação de segurança. Também não há iluminação pública, ficando muito
difícil para quem precisa cumprir o trajeto à noite. Esse é considerado pela
comunidade o maior problema, principalmente pelo medo de assaltos.
"Quando eu tenho que vir à noite, eu só venho de carro com meu marido,
porque é muito escuro. A gente fica com medo de assalto e tem que ter o cuidado
redobrado no trânsito, pra não acontecer acidente", afirma Juliana. O carroceiro
Alessandro Lima Correia, morador do Pedregal, não nega que a liberação da nova
ponte para o tráfego melhorou muito seu trabalho.
"Antes era ruim demais, acontecia muito acidente, a gente que passava no
meio dos carros e caminhões ficava com medo de acontecer alguma coisa. Agora
não, tem uma passagem que a gente fica mais seguro pra atravessar",
relata.
Porém, ele ressalta que o problema à noite tem gerado muita apreensão na
comunidade. "Quando eu passo, eu fico batendo com um pau na carroça para o
pessoal ouvir que tem gente. Acontece muita batida de noite, de gente de
bicicleta, porque não vê nada, esta tudo escuro", reclama Alessandro.
Os moradores também relatam de roubo de material. "Aqui não tem um vigia,
não tem fiscalização e a gente já percebe que estão roubando os materiais que
ficam encostados. Roubaram alguns ferros da grade de proteção que começou a ser
construída", denuncia a moradora da comunidade, Jocélia Ribeiro.
Com relação à falta de segurança, o sargento da Polícia Militar, Franco
Gonçalves Nogueira, afirmou que desconhece registros de ocorrência como
assaltos no entorno da ponte. Porém orienta a população que trafega à noite,
para redobrar cuidado, devido à escuridão do trecho.
Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu falar com o prefeito
de Aracati, Ivan Silvério, sobre o que foi decidido na última reunião realizada
entre a gestão municipal e o Dnit, há cerca de três meses. Segundo informou sua
Assessoria de Imprensa, sobre a reivindicação da população, ainda não está
definido a quem compete instalar a iluminação pública e que a questão só será
resolvida após a conclusão das obras.
ENQUETE
O que o Sr. acha desta obra sem conclusão?
"É uma vergonha o estado em que os motoristas passam por essa ponte. Os
responsáveis já tiveram muito tempo para concluir e não concluíram e é um risco
para o trânsito. Precisamos da ponte"
Romildo Silva
Motorista
"A gente não tem segurança pra passar à noite. Falta luz, é muito escuro,
não tem proteção para quem passa a pé, é medo de assalto. Pra acontecer algo
mais grave é rápido, a gente se protege do jeito que pode"
Alessandro Lima Correia
Carroceiro
ELLEN FREITAS
COLABORADORA