Mergulhar na riqueza da diversidade cultural
brasileira, tendo o audiovisual como fio condutor dessa viagem, que mais do que
descobrir histórias e talentos, possibilita a realização de sonhos, um deles,
transformar gente anônima em protagonista de suas próprias histórias de vida.
Em rápidas pinceladas, esse é um dos principais desafios do projeto
"Revelando os Brasis", realizado pelo Instituto Marlin Azul,
Organização Não-Governamental (Ong), localizada no Espírito Santo, com
patrocínio da Petrobras, Lei Rouanet, apoio do Ministério da Cultura (Minc), TV
Brasil e parceria com o Canal Futura.
O foco do projeto, criado em 2004, como uma
das ações do MinC, está voltado para moradores de cidades com até 20 mil
habitantes.
São 3.923 cidades com esse perfil, entre os
5.565 municípios brasileiros, como destaca Beatriz Lindenberg, coordenadora do
programa, que contabiliza 180 vídeos nas suas cinco edições, sendo a última em
2013.
O trabalho cumpre a tarefa também de
contribuir para desmitificar o conceito de cinema como algo inacessível ou de
objeto de desejo para poucos, além de introduzir mais um elemento nos estudos
para a compreensão sobre a sociedade brasileira, durante quase cinco décadas restritos
à televisão.
Durante os 10 anos de atuação, o talento
cearense é uma constante entre os inscritos no projeto. Na quinta edição, cujos
filmes foram realizados no ano passado, dos 40 nomes selecionados, três são do
Ceará, Augusto César dos Santos, Benedita Benilda de Sousa e Fabiano Silva
Ferreira, moradores das cidades de Meruoca, Aiuaba e Uruburetama,
respectivamente. O trabalho tem caráter de formação, sem perder de vista a
exibição e a distribuição das obras, materializadas em vídeos de cerca de 15
minutos.
Diante da situação de crise enfrentada pela
Petrobras, principal financiadora do projeto, Beatriz Lindenberg espera que a
empresa continue apostando na ideia, enfatizando a sua solidez e abrangência.
Atenta para o aspecto positivo do projeto, sobretudo quanto ao retorno de
imagem para a estatal.
"Os caminhões têm a marca da
Petrobras", lembra, ao reconhecer a solidez da parceria entre o instituto
e a empresa, uma história bem sucedida, como pondera. Segundo ela, não há
informação oficial sobre isso.
Critérios
Para participar, os candidatos devem ter mais
de 18 anos e trazer na ponta da língua uma boa história para contar, avisa
Beatriz Lindenberg, explicando que o programa é desenvolvido em três etapas. A
primeira é de formação, quando os candidatos participam de um curso de 15 dias,
no Rio de Janeiro, sobre criação de roteiro, direção de arte, fotografia,
edição, enfim, todas as etapas que envolvem a produção de uma obra audiovisual.
O primeiro desafio é transformar as
histórias, tiradas do cotidiano, da vida real ou do imaginário dos candidatos,
em roteiro. Em outras palavras, após "montarem o esqueleto do filme",
retornam às cidades. O próximo passo é formar a equipe técnica, escolher
atores, locações e dar vida ao filme. A contratação dos técnicos fica a cargo
do instituto, sendo escolhidos em cada Estado. A terceira etapa consiste no
lançamento do filme, que é exibido nas cidades onde moram os candidatos, em
três caminhões-cinema. "Os filmes serão apresentados em espaços públicos
de forma itinerante", explica Beatriz.
Um dos pontos positivos da iniciativa é a
valorização das comunidades. "A maioria dos moradores nunca foi ao
cinema", alerta. A cada edição, o caminhão percorre cerca de 30 mil
quilômetros. "É muito gratificante o prazer das pessoas de se verem na
tela", revela Lindenberg. Na terceira etapa, os novos produtores retornam
ao Rio de Janeiro e participam de entrevista na TV Futura, por ocasião da
exibição dos curtas. Depois, a organização reúne todos os filmes, depoimentos e
faz uma espécie de "making off", compilando o material em uma caixa.
"São contadas histórias pitorescas dos
candidatos", observa, como aspectos da vida de cada um. Alguns nunca
tinham andado de avião, conhecido uma cidade grande ou visto a praia. São mil
caixas, distribuídas em circuitos de cineclubes, pontos de cultura e
universidades. Os filmes podem ser vistos pela TV Futura.
"Sempre tem cearense entre os contadores
de história", festeja Beatriz, citando a participação de representantes
das cidades de Icapuí e Guaramiranga
em outras edições. A meta é atingir todos os quase quatro mil municípios
brasileiros que possuem até 20 mil habitantes, chamando a atenção para a
capilaridade da iniciativa, sobretudo devido ao à dimensão territorial do País.
No intervalo de uma década, aos poucos o
projeto vem contribuindo para transformar a uma falsa impressão elitista do
campo audiovisual. As pessoas passam a ver o cinema com outra mentalidade, além
de compreender o fazer, isto é, o ficar atrás das câmeras. (IS)
Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (15/ 02/ 15)
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