quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Aracati: Prática irregular gera risco em praias

Kitesurfe, quadriciclos e bugues ainda desafiam as autoridades pelos riscos de acidentes e à saúde

Durante o Carnaval, quadriciclos desrespeitam os direitos de banhistas nas praias de Paracuru. Muitas irregularidades e ações criminosas não deverão constar do balanço de ocorrências politicas a ser apresentado até amanhã FOTO: BRUNO GOMES
À revelia da lei, da fiscalização e da própria ação da polícia. Foi assim que a prática não regulamentada do kitesurfe, direção de bugue e quadriciclo na faixa de praia tornaram-se agressões sentidas no Carnaval em vários trechos do litoral cearense.


Contudo, muitas das irregularidades e até ações criminosas não deverão constar deste balanço, quer pela ousadia dos foliões em desrespeitar a lei, quer pela deficiência no número de fiscais e policiais para cobrir toda a orla marítima onde houve aglomerações de banhistas.


No município de Caucaia, na faixa compreendida entre a lagoa da Tabuba até o Cumbuco, por exemplo, a prática do kitesurfe segue sem nenhuma regulamentação pela cidade, segundo os seus próprios instrutores e praticantes. Amante do esporte, o instrutor Rodrigo Correia, 25, diz que o esporte é liberado todos os dias da semana. Segundo ele, velejar indiscriminadamente oferece mais risco para o banhista, além de uma instrução precária para os praticantes. "O fato é que se tornou um esporte muito procurado no Cumbuco, e isso tem feito com que cada vez mais crescesse o número de adeptos do esporte", ressaltou.


Medidas


Caucaia está entre os 17 municípios que o Ministério Público Federal no Ceará (MPF/CE) estabeleceu neste mês um prazo de 90 dias para que as prefeituras adotassem medidas legais para disciplinar a prática de kitesurfe no litoral e em lagoas do Estado.
Afora o kitesurfe, outras irregularidades foram percebidas no litoral. Em Canoa Quebrada, praia de Aracati, os bugues tiveram circulação fácil. A reportagem flagrou não só os veículos fazendo passeios sobre as falésias como também na orla. Foi intenso o trânsito irregular de carros e, especialmente, quadriciclos, nas praias de Paracuru. Nem mesmo as placas alertando para a proibição de veículos intimidou os motoristas, alguns arriscando com movimentos e velocidade nas máquinas em meio a vários banhistas, inclusive, crianças. Em outros, os próprios pais trafegavam em quadriciclos levando as crianças em ato considerado irregular.


O acidente acontecido no último dia 18 de janeiro em Canoa com o parapente controlado pelo piloto Jerônimo Saunier fez com que a Prefeitura de Aracati suspendesse a atividade. Muitos turistas e visitantes que foram a Canoa estranharam a ausência dos equipamentos. "Tinha voado há quase dois anos, quando estive aqui para passar o feriado da Semana Santa. Iria repetir a aventura, mas soube que foi suspensa. É uma pena", disse o bancário Lúcio Flávio Sales.


Lijanir Granjeiro, cunhada de Jerônimo, contou que ele se recupera de uma fratura no pé. "Durante dez anos, só aconteceu esse acidente um pouco mais grave. Além disso, os dois passageiros sofreram apenas escoriações leves. O Jerônimo quebrou o pé por causa do vento muito forte no momento do pouso". O presidente da Associação dos Moradores de Canoa Quebrada, Antônio Alves, o Toinho, denunciou a ausência de salva-vidas na praia. "Estamos necessitando de uma maior fiscalização por aqui. Além disso, num período como esse, não temos salva-vidas". Por volta das 10 horas do dia em que Toinho fez a denúncia, um grupo de quatro salva-vidas dos Bombeiros chegou a Canoa.


Barracas


O kitesurfe foi praticado em Canoa longe das barracas e da faixa de praia onde se concentram os banhistas. Sem fiscalização no trecho que vai da Marina até a Barra Nova, o tráfego de veículos na praia do Morro Branco ocorreu livremente, sobretudo nos períodos de maré baixa. Nem mesmo o grande número de banhistas inibiu os motoristas infratores. Na Ilha do Amor, em Camocim, bugues e carros tracionados faziam o sobe e desce nas dunas em meio aos pedestres.


Para o comandante do Batalhão de Policiamento Turístico do Ceará (Bptur), major João Océlio Atanázio Alves, essas atividades ilegais decorrem, sobretudo, pela desinformação em torno da legislação vigente e o desrespeito com a população.


O comandante informou que todo o esforço da Polícia Militar do Ceará foi exercido durante o feriado de Carnaval, no sentido de garantir a maior segurança dos foliões que elegeram o litoral como local da alegria e da descontração. Somente o Bptur mobilizou 1000 homens, para atuar na inibição e coibição de práticas ilegais.


ENQUETE


Como avalia a prática do kitesurfe?


"É um esporte bonito, que embeleza ainda mais o litoral, e da Tabuba até o Cumbuco há condições favoráveis para os praticantes. No entanto, não deixa de oferecer riscos para os banhistas e, principalmente, para as crianças. Acho que o procedimento correto é que haja regulamentação".


Fagner Braga Rodrigues
Industriário


"Todo esporte oferece algum tipo de perigo. No caso do kitesurf, o risco maior não é pelo impacto da prancha e sim das linhas que podem prender-e aos banhistas, podendo causar danos físicos. Eu acho que isso se resolve em boa parte dos casos com boas práticas de instrução".


Luiz Paulo de Araújo
Praticante do kitesurfe





Fonte: Cidade – Diário do Nordeste (18/ 02/ 15)

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