Kitesurfe, quadriciclos e bugues
ainda desafiam as autoridades pelos riscos de acidentes e à saúde
À revelia da lei, da fiscalização e da própria ação
da polícia. Foi assim que a prática não regulamentada do kitesurfe, direção de
bugue e quadriciclo na faixa de praia tornaram-se agressões sentidas no
Carnaval em vários trechos do litoral cearense.
Contudo, muitas das irregularidades e até ações
criminosas não deverão constar deste balanço, quer pela ousadia dos foliões em
desrespeitar a lei, quer pela deficiência no número de fiscais e policiais para
cobrir toda a orla marítima onde houve aglomerações de banhistas.
No município de Caucaia, na faixa compreendida
entre a lagoa da Tabuba até o Cumbuco, por exemplo, a prática do kitesurfe
segue sem nenhuma regulamentação pela cidade, segundo os seus próprios
instrutores e praticantes. Amante do esporte, o instrutor Rodrigo Correia, 25,
diz que o esporte é liberado todos os dias da semana. Segundo ele, velejar
indiscriminadamente oferece mais risco para o banhista, além de uma instrução
precária para os praticantes. "O fato é que se tornou um esporte muito
procurado no Cumbuco, e isso tem feito com que cada vez mais crescesse o número
de adeptos do esporte", ressaltou.
Medidas
Caucaia está entre os 17 municípios que o
Ministério Público Federal no Ceará (MPF/CE) estabeleceu neste mês um prazo de
90 dias para que as prefeituras adotassem medidas legais para disciplinar a
prática de kitesurfe no litoral e em lagoas do Estado.
Afora o kitesurfe, outras irregularidades foram
percebidas no litoral. Em Canoa Quebrada, praia de Aracati, os bugues tiveram
circulação fácil. A reportagem flagrou não só os veículos fazendo passeios
sobre as falésias como também na orla. Foi intenso o trânsito irregular de
carros e, especialmente, quadriciclos, nas praias de Paracuru. Nem mesmo as
placas alertando para a proibição de veículos intimidou os motoristas, alguns
arriscando com movimentos e velocidade nas máquinas em meio a vários banhistas,
inclusive, crianças. Em outros, os próprios pais trafegavam em quadriciclos
levando as crianças em ato considerado irregular.
O acidente acontecido no último dia 18 de janeiro
em Canoa com o parapente controlado pelo piloto Jerônimo Saunier fez com que a
Prefeitura de Aracati suspendesse a atividade. Muitos turistas e visitantes que
foram a Canoa estranharam a ausência dos equipamentos. "Tinha voado há
quase dois anos, quando estive aqui para passar o feriado da Semana Santa. Iria
repetir a aventura, mas soube que foi suspensa. É uma pena", disse o
bancário Lúcio Flávio Sales.
Lijanir Granjeiro, cunhada de Jerônimo, contou que
ele se recupera de uma fratura no pé. "Durante dez anos, só aconteceu esse
acidente um pouco mais grave. Além disso, os dois passageiros sofreram apenas
escoriações leves. O Jerônimo quebrou o pé por causa do vento muito forte no
momento do pouso". O presidente da Associação dos Moradores de Canoa
Quebrada, Antônio Alves, o Toinho, denunciou a ausência de salva-vidas na
praia. "Estamos necessitando de uma maior fiscalização por aqui. Além
disso, num período como esse, não temos salva-vidas". Por volta das 10
horas do dia em que Toinho fez a denúncia, um grupo de quatro salva-vidas dos
Bombeiros chegou a Canoa.
Barracas
O kitesurfe foi praticado em Canoa longe das
barracas e da faixa de praia onde se concentram os banhistas. Sem fiscalização
no trecho que vai da Marina até a Barra Nova, o tráfego de veículos na praia do
Morro Branco ocorreu livremente, sobretudo nos períodos de maré baixa. Nem
mesmo o grande número de banhistas inibiu os motoristas infratores. Na Ilha do
Amor, em Camocim, bugues e carros tracionados faziam o sobe e desce nas dunas
em meio aos pedestres.
Para o comandante do Batalhão de Policiamento
Turístico do Ceará (Bptur), major João Océlio Atanázio Alves, essas atividades
ilegais decorrem, sobretudo, pela desinformação em torno da legislação vigente
e o desrespeito com a população.
O comandante informou que todo o esforço da Polícia
Militar do Ceará foi exercido durante o feriado de Carnaval, no sentido de
garantir a maior segurança dos foliões que elegeram o litoral como local da
alegria e da descontração. Somente o Bptur mobilizou 1000 homens, para atuar na
inibição e coibição de práticas ilegais.
ENQUETE
Como avalia a
prática do kitesurfe?
"É um esporte bonito, que embeleza ainda mais
o litoral, e da Tabuba até o Cumbuco há condições favoráveis para os
praticantes. No entanto, não deixa de oferecer riscos para os banhistas e,
principalmente, para as crianças. Acho que o procedimento correto é que haja
regulamentação".
Fagner Braga
Rodrigues
Industriário
Industriário
"Todo esporte oferece algum tipo de perigo. No
caso do kitesurf, o risco maior não é pelo impacto da prancha e sim das linhas
que podem prender-e aos banhistas, podendo causar danos físicos. Eu acho que
isso se resolve em boa parte dos casos com boas práticas de instrução".
Luiz Paulo de
Araújo
Praticante do
kitesurfe
Fonte: Cidade – Diário do Nordeste (18/
02/ 15)
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