O
Mataquiri Museu, em Cascavel, será inaugurado hoje, com o intuito de preservar
a cultura do barro
O termo "mataquiri" é uma homenagem
ao maior pico de Cascavel, uma serra homônima, próxima ao povoado da Moita
Redonda, que tinha importância mitológica para os índios e, depois, tornou-se
referência geográfica para os jangadeiros que cruzavam o litoral leste do
Estado. Com o objetivo de institucionalizar e fortalecer a cultura do barro em
Cascavel, o Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro inaugura, hoje, no povoado, o
Mataquiri Museu, a partir das 15h, com a apresentação do espetáculo
"Sensorial", contemplado no ano passado com o IX Edital Ceará de
Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult).
O museu fica localizado em um sítio, próximo
à Rodovia Plácido Castelo, depois da CE-040. E utilizará a estrutura de uma
casa com arquitetura de 1928 e telhado artesanal. No mesmo terreno, encontra-se
uma casa de taipa onde a Orquestra de Barro costuma realizar seus ensaios.
O barro dessa região de Cascavel, município
situado a 62 km de distância de Fortaleza, é dotado, historicamente, de
incrível potencial transformador. Ciente dessa cultura e curioso para estudar e
explorar o uso dessa matéria prima na música, há nove anos, um artista
plástico, Tércio Araripe, mudou-se da Capital para a cidade da Região
Metropolitana.
Três anos depois, ele e a comunidade da Moita
Redonda criariam o Grupo Uirapuru, que reproduz e dissemina a música e a
cultura local pelo Brasil. O meio, então, tornou-se também finalidade.
A arte secular e artesanal de confeccionar
utensílios e objetos de decoração a partir do barro, tradição passada de
geração em geração em Cascavel, renovou-se, ganhou novas notas e valorização.
Trajetória
Diante do projeto de Tércio, o trabalho de
cerca de 60 famílias do povoado com o barro recebeu uma nova demanda e um
desafio: confeccionar instrumentos musicais. Segundo o artista, primeiro foram
produzidos instrumentos de percussão, como o africano udu (ou moringa), a
caixa, os tambores. Depois, vieram a marimba, a arpa, o violoncelo, a viola, a
flauta e até a guitarra.
Em troca, os artesãos locais são beneficiados
com a exposição de suas obras. "É um trabalho conjunto, que ajudou a
envolver a comunidade, uma parceria. Nosso objetivo é valorizar a cultura do
barro", afirma Tércio. Com os ensinamentos do experiente músico Luizinho
Duarte, em 2009, Tércio começou a recrutar jovens a partir dos 12 anos, da
comunidade, para formar a Orquestra de Barro. Atualmente, o grupo conta com 18
componentes, com idade entre nove e 22 anos, que sonham em dar continuidade à
carreira musical. Segundo Tércio, além da intimidade que os jovens criam com os
instrumentos, eles também aprendem sobre a tradição e o uso produtivo do recurso
natural.
Os instrumentos que os filhos usam são
provenientes da argila recolhida por seus pais direto do Rio Malcozinhado, que
também fica próximo à Moita Redonda. A transformação da matéria em obra é feita
manualmente. O barro seca, é quebrado com a mão, muitas vezes amassado com o
pé, moldado e levado ao forno.
Em 2013, o Grupo Uirapuru participou de uma
experiência nova em sua carreira: realizar um musical. "Piu e o Acorde
Mitológico" ultrapassou as fronteiras de Cascavel e também foi apresentado
em Sobral e Fortaleza. Apesar do estranhamento de trabalhar com o teatro, o
artista plástico responsável pelo projeto gostou e pretende voltar a fazer.
Museu
Apesar da inauguração, o Mataquiri Museu
ainda não conta com uma programação definida a longo prazo. Tércio conta que
espera negociar com antigos parceiros do Uirapuru, como a Prefeitura Municipal
de Cascavel e o Serviço Social do Comércio (Sesc), para garantir a
sistematização de um calendário de atrações. Com o espaço funcionando, ele
pretende expôr peças da cultura do barro e exibir apresentações de orquestras,
grupos teatrais, filmes e outras artes, em uma programação regular.
Mais
informações:
Inauguração do Mataquiri Museu. Hoje (24), às
15h, com o espetáculo "Sensorial", no Povoado da Moita Redonda
(próximo à Rodovia Plácido Castelo, depois da CE-040). Gratuito. Contato: (85)
8831.5441
Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (24/ 01/ 15)
Nenhum comentário:
Postar um comentário