O turismo que alimenta é o mesmo que sufoca com a
constante expansão. Ocupações disputam a paisagem
Aracati. "Vocês vieram mostrar as coisas boas ou
ruins?" A dúvida de um dono de pousada ao nos abordar carregava a
preocupação sobre que imagem se levará de Canoa. A vila praiana é tão plural
que não é possível entendê-la isoladamente. Quem vive do turismo (a maioria)
teme a "imagem negativa", que afete diretamente a atividade. Mas
Canoa não é só de pousadas, restaurantes, barracas de praia, dunas e tirolesa.
Há uma população plural e pulsante, em que o turismo é o bem e o mal. E apenas
parte de uma Canoa ainda maior, mas que fica escondida por trás das falésias e
da rua principal.
"Aqui é lindo pra
quem vem. Lindo de verdade. Quem não quiser ver uma realidade maior, desvia o
olhar, passa o tempo que puder pagar, depois junta as coisas e vai embora
feliz", diz a vendedora Maria Almerinda. O diferente acontece quando,
mesmo desviando o olhar, a realidade que não se quer enxergar bate a porta.
Pode ser na forma de uma onda que banha a mesa da barraca, ou de um homem-zumbi
pedindo um trocado para sustentar o vício do crack. Ou quando pede que não faça
barulho e passe tudo: câmera, carteira, celular. E junto às fotos perdidas vai
a lembrança da tranquilidade de até então.
Conflitos
É tensa a paz de Canoa.
Vez por outra, há faíscas entre o turismo e a comunidade, ou a comunidade com
ela própria, seja ou não pelo turismo. Explica-se: jovens que cresceram juntos
disputam hoje o espaço em bugues nas dunas para onde levam os turistas. O
turismo nas dunas é garantia de comida na casa do bugueiro; de outro modo, a
ocupação causada pelo mesmo turismo choca-se com os interesses de uma
comunidade, seja quando a falésia sofre erosão e interrompe os acessos ou
quando o excesso de esgotamento sanitário polui, silenciosamente, a reserva
subterrânea de água doce que abastece a todos.
Quando falta água na
caixa reservatório, a lavadeira Margarida Pereira da Silva pensa que não deve
ter faltado para as piscinas das pousadas, mas prefere não reclamar porque a
família bota comer em casa por meio do turismo gerado por essas mesmas pessoas
que se banham nas piscinas. Pesca e artesanato são, hoje, atividades menores
realizadas pelos mais velhos. Os filhos de Laureano Carneiro não têm o mesmo
ofício do pai pescador. "Os meus meninos estão é bem. Se fosse depender de
pesca não tinha o que tem hoje, que até em carro próprio eles andam".
Bugueiro e gerente de pousada, Lauro e Carlos, respectivamente, só dependem da
movimentação de pessoas da praia.
Perspectivas
Para João Batista,
servidor público aposentado, um nativo de Canoa se dar bem depende do ponto de
vista, "e ainda assim é uma minoria. Muitas garotas daqui quando crescem
estão fadadas a ser cozinheiras, arrumadeiras, recepcionista ou mesmo
prostituta". O turismo, que gera 2.600 empregos diretos, tem causado uma
dependência que ofusca outras formas de viver e trabalhar.
A expansão dos
empreendimentos turísticos tem sufocado os canoenses que, na prática, dão
suporte à própria atividade turística. A Escola de Ensino Fundamental Zé
Melancia comporta mais de 500 crianças em um espaço nunca ampliado porque já
está tomado por todos os lados. Em 2013, a instituição deixou de receber verba
de um programa federal porque não possui o tamanho mínimo para comportar as
várias atividades lúdicas dos alunos, como um parque recreativo e uma quadra
esportiva.
Algumas das exceções são
o Circo Escola e o Recriciança, importantes iniciativas para a comunidade por
parte de Organizações Não Governamentais. Mas a cada ano surge uma nova
pousada, algumas vista para o mar, nem que para isso tenha que crescer
verticalmente.
A conhecida Rua Dragão
do Mar, ou "Broadway", é cartão-postal dia e noite. Ganhou ornamentos
e equipamentos para os turistas, como bancos com sombreamento. Tem uma placa da
Prefeitura Municipal de Aracati, mas foram, de fato, compradas e colocadas
pelos empreendedores locais em parceria com uma fabricante de bebidas. A
prefeitura é o "apoio institucional".
A paz de Canoa continua
tensa, e quando nos perguntaram qual imagem vamos mostrar, um auxiliar de
serviços gerais de uma pousada diz que sua família pode ser expulsa de casa
"a qualquer momento". São moradores da Rua Pôr-do-Sol (leva à duna de
mesmo nome) que fizeram construções irregulares e, por isso, devem sair. Como
já receberam o documento da Justiça, a desapropriação poderá ser feita com uso
de força policial. Ao contrário das pousadas construídas em áreas de falésias,
os moradores que ocupam o sopé da duna estão obrigados a cumprir a legislação
ambiental. É uma Área de Preservação Permanente (APP) que, no fim da tarde, é
ocupada por carros e pessoas para contemplar e aplaudir um lindo pôr-do-sol.
"Consciência da importância ecológica"
Fortaleza. "Em
todas as comunidades com vocação turística do Ceará, tanto do litoral quanto
Interior, desenvolveremos a coordenação dos trabalhos com diálogo, participação
local das lideranças, empreendedores locais e a comunidade, com objetivo da
criação da consciência da importância ecológica, turística e desenvolvimento
econômico social", afirma Arialdo Pinho, secretário de Turismo do Estado
do Ceará. A afirmação deu-se ao ser provocado após matéria publicada no caderno
Regional (16/01) apontando problemas no Parque Nacional de Jericoacoara.
As palavras são bem
recebidas pelos empreendedores de Canoa Quebrada, mas não trazem contentamento.
Isso porque há anos se espera a execução do Programa de Desenvolvimento do
Turismo (Prodetur) no polo turístico em Aracati. Em 2013 houve assinatura de
ordem de serviço para obras de revitalização dos espaços urbano-turísticos do
centro da cidade. O projeto para Canoa Quebrada, prometido para o mesmo ano, não
saiu do papel. Os donos de 23 barracas mantidas na ilegalidade aguardam ser
remanejados para uma área própria, pois já se passaram três meses do prazo para
deixarem a encosta das falésias.
Jericoacoara
No que diz respeito à
Jericoacoara, motivo de reportagem publicada no dia, apontando uma série de
falhas que vão da coleta de lixo ao policiamento. O secretário afirma que o
governo atua naquele Parque Nacional em parceria com órgãos locais, por meio do
Departamento de Trânsito do Ceará (Detran-CE), Secretaria de Segurança e Defesa
Social (SSPDS), Superintendência do Meio Ambiente do Ceará (Semace) e Instituto
do Desenvolvimento Agrário (Idace). "Estamos inaugurando uma UPA neste
primeiro semestre, e no ano passado doamos compactadores de lixo para a Prefeitura
trabalhar na comunidade".
Em maio de 2014, o
governo do Estado lançou um pacote de 62,8 milhões em obras estruturantes para
o turismo. Não contemplaram diretamente Canoa Quebrada, mas regiões litorâneas
que historicamente demandavam investimentos como acesso pelas rodovias. Os
recursos foram distribuídos em de Itapipoca, Trairi, Paraipaba, Paracuru, São
Gonçalo do Amarante, Caucaia e Fortaleza, numa extensão de mais de 150 Km de
litoral, parte do "Polo Ceará Costa do Sol", no Litoral Oeste do Estado.
FIQUE POR DENTRO
Disputa pelo território divide comunidade
Para muitas pessoas de
Canoa, a pesca é uma memória. As atividades turísticas são o motor gerador de
renda das famílias. Entre ser garçom, cozinheiro, segurança ou vendedor,
bugueiro é a função mais cobiçada. Também mais difícil. Bugueiros associados,
com cadastro e autorização da Prefeitura Municipal, enfrentam o transporte
irregular nas dunas por parte dos 'piratas', que não possuem autorização,
principalmente porque não há novas vagas de permissionários para essa
atividade. O passeio pelas dunas, ao custo médio de R$ 200, fica menor nas mãos
do bugueiro clandestino.
No dia 8 de janeiro,
dezenas de bugueiros fizeram protesto na via que dá acesso às praias de Canoa
Quebrada e Majorlândia para chamar a atenção do poder público para a
fiscalização do trânsito nas dunas. Beto Andrade, presidente da Associação,
afirma que os clandestinos chegam a colocar pedras e pregos no caminho dos
bugueiros. Já os 'piratas' reclamam sofrer perseguição da Guarda Municipal e
denunciam a venda ilegal de permissão para o transporte turístico nas dunas. A
associação nega. O Ministério Público do Estado quer o fim dos bugues nas
dunas, por causarem a degradação ambiental.
Melquíades
Júnior
Repórter
Repórter
Fonte: Regional – Diário do Nordeste (24/ 01/ 15)
Boa Materia,,, as pessoas que vivem em Canoa precisam cair na real e fazer a sua parte e seguir regulamentos que valha para todos..Em especial na parte Ambiental... Vale lembrar que em 2009, houve muita chuva e surgiu uma cratera levando uma inteira extensão de falésia para dentro do mar, um desastre ambiental sem precedentes, e tudo por falta de drenagem das ruas pavimentadas e até hoje a mesma triste situação continua o que é gravíssimo com um inverno chegando... Ja as pessoas, os turistas desavisados que por sinal sofreram pequenos danos fisicos num deslize das falésias no mesmo ano foi por que aqui NÂO existe nenhuma informação visual advertindo e proibindo aos turistas de escalar falésias para gravar seus nomes o que é no papel proibido por lei,, danificar estas entidades ambientais as Falésias,, nem deveriam caminhar em cima delas com o uso de trilhas,, mas na realidade as Falésias sâo danificadas todos os dias com veículos motorizados sobre elas... Salve as falésias , salve uma real regulamentação em toda a Canoa, as Falésias de Canoa sâo o diferencial desse paraíso quebrado,,, sobretudo Simplesmente Canoa deveria se chamada essa linda vila praiana " Canoa" Q.... o seu segundo nome esta trazendo muitos estragos ,,, Afinal a palavra escrita tem muito Poder!
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