A ONG Recicriança garante que, em 17
anos, já foram destruídos 13 metros de falésias
Na última terça-feira, o segundo símbolo com a lua a
estrela foi destruído; as escadarias estão ameaçadas pela erosão produzida
pelas chuvas e pela maré FOTOS: ELLEN FREITAS
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Aracati. Nos últimos dez dias, várias falésias
sofreram processo de desmoronamento, na Praia de Canoa Quebrada. Com elas, duas
das quatro esculturas esculpidas na areia foram levadas pelas ondas e também
pelas chuvas que ocasionam enxurradas vindas da área urbanizada.
O problema já havia sido levantado por uma série de matérias especiais
publicadas pelo Diário do Nordeste há pouco mais de um ano, nos dias 21 e 22 de
fevereiro de 2014. Intitulada "O mar avança", a reportagem alerta,
dentre outras coisas, para o desmoronamento das falésias em Canoa Quebrada,
ocasionados por dois fatores.
O primeiro deles é o avanço do mar, fenômeno mundial decorrente das
mudanças climáticas. O outro é a intervenção humana. No caso de Canoa Quebrada,
o processo natural de desaparecimento das falésias está sendo bastante
acelerado pela falta de drenagem nas ruas da parte urbanizada da mais
importante praia de Aracati. Sem falar do passeio de buggies e da grande
movimentação de pessoas em cima das falésias.
De acordo com o coordenador da Organização Não-Governamental (ONG)
Recicriança - localizada na Vila Estevão, próximo de onde desmoronou parte da
falésia com uma das esculturas -, Tércio Vellardi, ocorreu situação parecida há
nove anos. "Em 2006, aconteceu um fenômeno como esse. Poucos dias de
chuva, a maré alta de lua cheia e o desrespeito das pessoas pela área das
falésias ocasionaram destruição".
Tércio explica que esse intenso movimento das marés na praia é
consequência da realocação das pedras que formavam os corais para a formação de
piscinas naturais em outras áreas da praia, conhecida como Porto das Barteras,
no fim da década de 90. "A falta dessas pedras faz com que o movimento das
ondas chegue cada vez mais forte e mais rápido, afetando as falésias. As
barracas de certa forma freiam essa intensidade, mas também correm o risco de
desabamento".
Para o ambientalista, "uma solução seria colocar as pedras no local
novamente ou ostras. "Esse material barraria a força das ondas, diminuindo
a destruição das falésias como vem acontecendo. Esses locais que têm os
símbolos da Canoa estão caindo e vão cair mais se essa providência não for
adotada.
Ainda sobre o avanço do mar, Tércio revela que, por meio de um
monitoramento feito por ele nos últimos 17 anos, ficou constatada a destruição
de 13 metros de falésias. "O mar continua avançando e as falésias têm o
seu movimento. Elas não são fixas. Entretanto, o que preocupa é que os
desmoronamentos acontecem de forma progressiva. Medimos aqui desde 1998. Na
época, tínhamos 20 metros de distância de um coqueiro que temos aqui até a
ponta da falésia. Hoje são apenas sete metros, ou seja, sumiram 13 metros
durante esse período".
Tércio faz outro alerta importante. "Com o aparecimento precoce das
falésias, a tendência é de que o mar, sem qualquer escudo natural à sua frente,
avance mais ainda". Ele lembra que, entre 2003 e 2004, "foi feita uma
grande reforma urbanística na Broadway. Só que esqueceram de dar uma destinação
para a água, tipo uma lagoa de estabilização. O resultado é que, principalmente
quando chove, essa água produz uma enxurrada que ocasiona grande erosão ás
falésias. Essa água tem que ser retida lá em cima para ser reutilizada e não
vir dessa forma para dentro mar.
Especialista
Quando ouvido pela reportagem em "O mar avança", o professor
do Curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e um dos maiores
especialistas em falésias, Jeovah Meireles, já alertava "para essas
grandes voçorocas que estão surgindo nas falésias de Canoa Quebrada, que são
frutos da impermeabilização do solo nas áreas urbanizadas, que transformaram as
ruas em verdadeiros rios que, por sua vez, produzem enxurradas que destroem esse
importante patrimônio natural".
Mais informações:
Organização Não-Governamental (ONG)
Recicriança
Vila do Estevão
Canoa Quebrada- Aracati (CE)
Ellen Freitas
Colaboradora
Fonte: Regional – Diário do Nordeste (07/ 03/ 15)
Vila do Estevão
Canoa Quebrada- Aracati (CE)
Colaboradora
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