Capital recebeu pré-estreia nacional do
longa-metragem dois meses após exibição no Festival de Berlim
Após quase dois meses desde a estreia no
Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, finalmente o longa-metragem Praia
do Futuro do diretor Karim Aïnouz teve suas primeiras exibições em Fortaleza,
cidade natal do cineasta.
Pela manhã, foi realizada uma cabine de
imprensa numa das salas do Cinema Dragão-Fundação Joaquim Nabuco, no Centro
Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). Após o filme, Karim e o ator Wagner
Moura, que faz um dos papeis principais da produção, concederam entrevista
coletiva ao grupo de jornalistas presentes. Estavam presentes ainda uma das
produtoras do filme, Geórgia Costa Araújo, e o ator mirim Savio Ygor Ramos, que
interpreta o irmão do personagem de Wagner na infância.
À noite, o filme foi exibido mais duas vezes
- novamente no Cinema Dragão-Fundação e, em seguida, em uma das salas do UCI
Ribeiro Iguatemi. Na primeira, uma quantidade limitada de ingressos foi
disponibilizada na bilheteria no começo da tarde, quando uma fila já
atravessava a área do Planetário Rubens de Azevedo. Já a sessão no UCI Ribeiro
Iguatemi foi apenas para convidados, com a presença de integrantes do elenco.
Coletiva
Na entrevista coletiva, tanto Karim quanto
Wagner mostraram-se simpáticos e receptivos com os jornalistas, ao responderem
todas as perguntas com disponibilidade. Apenas Savio Ygor, pela pouca idade,
foi econômico nas palavras, divertindo a plateia com respostas meio tímidas.
Wagner pareceu cansado, após compromissos anteriores de divulgação do filme em
São Paulo e as horas de voo até Fortaleza. "Bom dia. Ou é boa tarde, já?
Que horas são", perguntou aos presentes logo quando entrou na sala.
Preparo
físico
Sobre seu personagem, o ator baiano arriscou
dizer que foi o mais complexo que interpretou. "Porque ele tem perguntas
para as quais não há respostas. Foi quando entendi isso que passei a
compreender o personagem", explicou. Wagner ressaltou ainda o trabalho
físico envolvido na construção do protagonista, um salva-vidas chamado Donato,
que trabalha na Praia do Futuro, em Fortaleza.
"Existe todo um universo dentro desse
personagem, mas você entende mais sobre ele por suas atitudes, não pela fala.
Ele tem uma fisicalidade que é muito reveladora, ele se expressa quando dança,
quando nada, quando transa (com seu parceiro, interpretado pelo ator alemão
Clemens Schick). Isso é sofisticado e difícil de fazer", comentou.
No processo de preparação, Wagner conviveu
com o major Cláudio Barreto, do Corpo de Bombeiros do Ceará, a quem agradeceu
durante a entrevista. "Fiz um treinamento casca grossa, que ajudou a criar
um tônus para o personagem", revelou.
Leituras possíveis
Da mesma maneira, Karim destacou os diálogos
enxutos e as "lacunas" deixadas propositalmente na história do filme,
para que o próprio espectador imagine como ela se desenrolou entre as passagens
de tempo.
"O cinema não é uma mídia do nosso
século, mas do século passado. É importante tentar trazê-lo para esse novo
lugar, no qual as histórias são contadas de maneira diferente e os espectadores
são cada vez mais interativos", comentou.
No filme, Donato precisa lidar com a primeira
vítima de afogamento que não conseguiu salvar. Era um amigo do alemão Konrad, a
quem ele precisa dar a notícia. Rapidamente, os dois engatam uma relação -
primeiro sexual, depois amorosa.
As cenas de sexo do longa revelam atores
corajosos e generosos com o trabalho. O salva-vidas segue para Berlim com
Konrad, onde fica de vez, sem nunca mais dar notícias à família que deixou em
Fortaleza - inclusive um irmão pequeno (Savio Ygor), que o tinha como herói.
Anos após o abandono, já adolescente, o rapaz
(interpretado pelo talentoso cearense Jesuíta Barbosa) vai a Berlim em busca do
irmão.
A partir desse mote, Praia do Futuro
debruça-se sobre assuntos como fuga, medo e a aventura-se de lançar no mundo,
sobre sentimentos de pertença, amor e a eterna busca pela própria identidade.
Embora não seja o melhor trabalho do diretor, é um bom filme, capaz de suscitar
diferentes leituras e sensações no espectador. A estreia nacional acontece em
15 de maio.
Adriana
Martins
Especial para Cidade
Especial para Cidade
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
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