Estado registrou 240,2 denúncias por grupo de
100 mil mulheres em 2013 no Disque 180. Para especialistas, números são
subnotificados
O Ceará foi o segundo estado do País a
registrar o menor número de ligações por população feminina na Central de
Atendimento à Mulher – Disque 180 em 2013. Ao todo, foram recebidas 10.401
chamadas – uma média de 240,2 ligações por grupo de 100 mil mulheres, taxa
menor apenas do que a observada no estado do Amapá. O levantamento foi
realizado pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) do Governo Federal.
Para especialistas e profissionais da área,
no entanto, o baixo número de denúncias esconde um cenário de violência muito
mais amplo do que o apontado pelos dados do Governo Federal. “A gente acredita
que existem mais mulheres vítimas de violência do que o número de denúncias. A
realidade indicaria um número muito maior”, afirma a assessora de Enfrentamento
à Violência da Coordenadoria Especial de Políticas para as Mulheres, Helena
Campelo. Segundo Helena, os números sobre a violência contra a mulher ainda são
reflexo de uma grande quantidade de casos subnotificados.
“É difícil de acreditar que não estejam
havendo denúncias porque não estão havendo ocorrências”, afirma a pesquisadora
do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará
(LEV/UFC), Jânia Perla. A pesquisadora atribui a subnotificação a baixos
indicadores sociais, à cultura machista vigente em estados como o Ceará e aos
vínculos emocionais entre vítima e agressor. “Nesse caso, a subnotificação não
é em decorrência de não acreditar na polícia. Tem a ver com dimensões sociais
do cotidiano e um contexto em que a mulher teme a ruptura de laços familiares”,
aponta.
Segundo a defensora pública do Núcleo de
Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem), Elizabeth Chagas, o número
de denúncias funciona apenas como uma “amostragem” da real situação de
vulnerabilidade da mulher. “Os números que temos são sub-registros. Existe todo
um ciclo de violência que é difícil de ser quebrado por conta de
constrangimentos e ameaças”, relata.
Denúncias
presenciais
Apesar de reconhecerem a importância do
Disque 180 no enfrentamento à violência contra a mulher, as especialistas ouvidas
pelo O POVO reforçam a necessidade da denúncia presencial. “A gente orienta a
ida à delegacia porque é lá que a mulher pode solicitar as medidas protetivas”
explica a assessora da Prefeitura, Helena Campelo. “A denúncia é um momento de
sofrimento. É importante que exista uma interação face a face”, completa a
pesquisadora Jânia Perla.
O POVO tentou falar com a coordenadora
especial de políticas para mulheres do Governo do Ceará, Mônica Barroso, mas
foi informado pela assessoria da defensora pública de que ela passou por
procedimento cirúrgico recentemente e estava impossibilitada de conceder
entrevistas. A titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza também foi
procurada, mas, segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, a delegada estava
em reunião e não poderia atender ligações.
10.401 ligações foram recebidas pelo
Disque 180 no Ceará em 2013
Fonte: Jornal Opovo
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