sexta-feira, 10 de abril de 2015

Aracati: Poder político garantiu a hegemonia

Quando Fortaleza foi elevada à condição de vila, em 13 de abril de 1726, não havia indícios de atividade econômica de caráter urbano, diferente de outras grandes cidades que tiveram origem no período colonial. Salvador, Recife, São Luís e Rio de Janeiro, por exemplo, já nasceram como centros de produção para o mercado externo e sede dos aparatos militar e burocrático.


Enquanto Fortaleza, como o nome sugere, cumpria apenas a função de defesa do território. Essa condição permaneceria pelas décadas seguintes, até que o ciclo do algodão consolidou a vila fundada junto à Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção como a principal cidade do Ceará.


“O comércio direto com Lisboa e depois com outras praças da Europa seria a grande mola de animação da vida da Cidade”, disse o historiador Raimundo Girão na obra Geografia Estética de Fortaleza (1979). Entretanto, segundo a socióloga Maria Auxiliadora Lemenhe, em As Razões de uma Cidade (1991, Stylus), mesmo em 1726, Fortaleza ainda estaria longe ter força econômica. “A vila de Fortaleza, distanciada dos sertões da pecuária, continuaria sendo por mais de um século, um aglomerado sem sustentação econômica”, ela diz.


Mas, apesar da vantagem econômica de Aracati, o que fez Fortaleza vencer a disputa pela hegemonia no Ceará foi o fato de ter sido escolhida como capital da província. “O sistema político-administrativo do Império criou os mecanismos políticos e institucionais favoráveis à hegemonia do núcleo”, diz Lamenhe. 


Para Rui Martinho Rodrigues, as capitais brasileiras sempre exerceram um forte poder de atração sobre os mais diversos setores da economia, devido à concentração de recursos financeiros e das atividades burocráticas.


“Chama atenção a importância do poder politico para a atividade econômica. E os grandes negócios têm, muitas vezes, uma passagem pelo poder público. Nos estados federados pobres, o poder da economia estatal é muito grande e, para obter vantagens, o setor privado tem de negociar muito com o público”, diz Rodrigues.


Nos primeiros 150 anos de fundação, foramo porto e, posteriormente, a ferrovia, que contribuíram para tornar Fortaleza um empório comercial, diz Rodrigues. Para ele, a vocação de Fortaleza para o comércio se deu por falta de alternativas. “O Estado não tem vocação extrativista mineral, nem vocação agrícola ou industrial. Então sobrou o comércio.” (BC)




Fonte: Economia – Jornal O povo (10/ 04/ 15)

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