Quando Fortaleza foi elevada à condição de
vila, em 13 de abril de 1726, não havia indícios de atividade econômica de
caráter urbano, diferente de outras grandes cidades que tiveram origem no
período colonial. Salvador, Recife, São Luís e Rio de Janeiro, por exemplo, já
nasceram como centros de produção para o mercado externo e sede dos aparatos
militar e burocrático.
Enquanto Fortaleza, como o nome sugere,
cumpria apenas a função de defesa do território. Essa condição permaneceria
pelas décadas seguintes, até que o ciclo do algodão consolidou a vila fundada
junto à Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção como a principal cidade do
Ceará.
“O comércio direto com Lisboa e depois com
outras praças da Europa seria a grande mola de animação da vida da Cidade”,
disse o historiador Raimundo Girão na obra Geografia Estética de Fortaleza
(1979). Entretanto, segundo a socióloga Maria Auxiliadora Lemenhe, em As Razões
de uma Cidade (1991, Stylus), mesmo em 1726, Fortaleza ainda estaria longe ter
força econômica. “A vila de Fortaleza, distanciada dos sertões da pecuária,
continuaria sendo por mais de um século, um aglomerado sem sustentação
econômica”, ela diz.
Mas, apesar da vantagem econômica de Aracati,
o que fez Fortaleza vencer a disputa pela hegemonia no Ceará foi o fato de ter
sido escolhida como capital da província. “O sistema político-administrativo do
Império criou os mecanismos políticos e institucionais favoráveis à hegemonia
do núcleo”, diz Lamenhe.
Para Rui Martinho Rodrigues, as capitais
brasileiras sempre exerceram um forte poder de atração sobre os mais diversos
setores da economia, devido à concentração de recursos financeiros e das
atividades burocráticas.
“Chama atenção a importância do poder
politico para a atividade econômica. E os grandes negócios têm, muitas vezes,
uma passagem pelo poder público. Nos estados federados pobres, o poder da
economia estatal é muito grande e, para obter vantagens, o setor privado tem de
negociar muito com o público”, diz Rodrigues.
Nos primeiros 150 anos de fundação, foramo
porto e, posteriormente, a ferrovia, que contribuíram para tornar Fortaleza um
empório comercial, diz Rodrigues. Para ele, a vocação de Fortaleza para o
comércio se deu por falta de alternativas. “O Estado não tem vocação
extrativista mineral, nem vocação agrícola ou industrial. Então sobrou o
comércio.” (BC)
Fonte: Economia – Jornal O povo (10/ 04/ 15)
Nenhum comentário:
Postar um comentário