Por Ronald Tavares -
História
É de sabença comezinha que Santana foi a segunda
invocação mais comum do Catolicismo popular em terras brasileiras no Período
Colonial, atrás somente de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Coroa
Portuguesa.
Todavia, chamou-me
deveras atenção o fato de a Mãe de Maria ter sido tão cultuada em Aquiraz
naquelas priscas eras, ao ponto de na Igreja Matriz existir um soberbo grupo
escultórico representando a anciã ensinando à sua filha a famosa antífona
latina Regina Angelorum.
A imagem sem dúvida
remonta à primeira metade do Sec. XVIII, época em que Ouvidor Pedro Cardoso de
Novaes Pereira empreendeu pujante reforma na Matriz, construindo inclusive uma
capela para Santana.
Nos idos de 1740, as
paragens cearenses enfrentaram grande estiagem, prejudicando a criação de gado
que já se consolidava na Capitania como principal riqueza econômica. A
Freguesia de Aquiraz, desde sua criação, por volta de 1700, teve como orago o
Glorioso São José de Ribamar, o natural seria os fiéis invocarem o Santo
Padroeiro para aplacar o rigor das secas e renovar as esperanças de um bom
inverno, seguindo, de todo modo, a tão difundida crença popular. No entanto, no
sec. XVIII, pelo menos em Aquiraz, onde São José destacava-se como principal
devoção, curiosamente as orações para tal fim eram direcionadas à Santana.
No longínquo ano de
1741, em versão modesta, comparável de longe ao famoso Triunfo Eucarístico de
Vila Rica setecentista, grande procissão reunindo o povo de Aquiraz, o clero
secular, membros da Companhia de Jesus e os Edis em Corpo de Câmara saiu da
Igreja Matriz levando a imagem de Santana para a capela dos Jesuítas, hoje em
ruínas. Motivou o ato religioso a seca rigorosa que assolava o lugar,
acreditavam todos aqueles fiéis que Santana intercederia por eles junto a Deus,
reverberando o pleito comum de copiosas chuvas.
A imagem, tão cultuada
no passado colonial, atualmente demora no Museu Sacro São José de Ribamar,
impressionando a todos que o visitam, tamanha a perfeição do traços, vivacidade
da carnação e arrojo na policromia. É sem dúvida um patrimônio material de
nosso Município que agrega em si toda a religiosidade de um povo capaz de
superar os mais caros desafios sem perder a linha da fé.
Créditos da fotografia de Santana: Catálogo do Museu Sacro
São José de Ribamar, Fortaleza, 2013.
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