sexta-feira, 10 de abril de 2015

Aquiraz: Uma Jóia Barroca

Por Ronald Tavares - História

É de sabença comezinha que Santana foi a segunda invocação mais comum do Catolicismo popular em terras brasileiras no Período Colonial, atrás somente de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Coroa Portuguesa.



Todavia, chamou-me deveras atenção o fato de a Mãe de Maria ter sido tão cultuada em Aquiraz naquelas priscas eras, ao ponto de na Igreja Matriz existir um soberbo grupo escultórico representando a anciã ensinando à sua filha a famosa antífona latina Regina Angelorum.


A imagem sem dúvida remonta à primeira metade do Sec. XVIII, época em que Ouvidor Pedro Cardoso de Novaes Pereira empreendeu pujante reforma na Matriz, construindo inclusive uma capela para Santana.


Nos idos de 1740, as paragens cearenses enfrentaram grande estiagem, prejudicando a criação de gado que já se consolidava na Capitania como principal riqueza econômica. A Freguesia de Aquiraz, desde sua criação, por volta de 1700, teve como orago o Glorioso São José de Ribamar, o natural seria os fiéis invocarem o Santo Padroeiro para aplacar o rigor das secas e renovar as esperanças de um bom inverno, seguindo, de todo modo, a tão difundida crença popular. No entanto, no sec. XVIII, pelo menos em Aquiraz, onde São José destacava-se como principal devoção, curiosamente as orações para tal fim eram direcionadas à Santana.


No longínquo ano de 1741, em versão modesta, comparável de longe ao famoso Triunfo Eucarístico de Vila Rica setecentista, grande procissão reunindo o povo de Aquiraz, o clero secular, membros da Companhia de Jesus e os Edis em Corpo de Câmara saiu da Igreja Matriz levando a imagem de Santana para a capela dos Jesuítas, hoje em ruínas. Motivou o ato religioso a seca rigorosa que assolava o lugar, acreditavam todos aqueles fiéis que Santana intercederia por eles junto a Deus, reverberando o pleito comum de copiosas chuvas.


A imagem, tão cultuada no passado colonial, atualmente demora no Museu Sacro São José de Ribamar, impressionando a todos que o visitam, tamanha a perfeição do traços, vivacidade da carnação e arrojo na policromia. É sem dúvida um patrimônio material de nosso Município que agrega em si toda a religiosidade de um povo capaz de superar os mais caros desafios sem perder a linha da fé.


Créditos da fotografia de Santana: Catálogo do Museu Sacro São José de Ribamar, Fortaleza, 2013.

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