sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Icapuí: Fantasia rasgada

A desistência da instalação das refinarias Premium I e Premium II, respectivamente no Maranhão e no Ceará, anunciada pela Petrobras, desfaz de modo desastroso a crença segundo a qual o Estado caminhava, de fato, para implantar a infraestrutura de seu desenvolvimento econômico.


Projetos estimados em U$ 30 bilhões, sendo U$ 15 bilhões para cada uma, esses empreendimentos foram lançados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antevendo com essas indústrias de base o aproveitamento da riqueza petrolífera identificada na costa atlântica entre o Ceará e o Maranhão, continuidade natural da matriz petrolífera identificada até Mossoró no Rio Grande do Norte.


Em mais de uma oportunidade, tanto o presidente Lula, quando ainda no poder, como a presidente Dilma Rousseff, ao tempo de seu primeiro mandato, reasseguraram, por vezes, seus compromissos com esses empreendimentos considerados como redentores para os dois Estados nordestinos.


A Petrobras sempre manteve no passado sigilo em torno das sondagens sobre as riquezas petrolíferas, por causa da concorrência internacional que influenciava suas operações. Limitações no número de pesquisadores especializados, embaraços políticos e a competição externa limitavam seu crescimento.


Em 1960, o geólogo norte-americano Walter K. Link foi contratado pela estatal para oferecer parecer sobre as potencialidades do petróleo brasileiro. Em quatro cartas (estudos), ele provocou reações de toda natureza ao negar a existência de petróleo explorável economicamente em terra. O mar, e não a terra, seria a fonte de petróleo e gás natural no Brasil do futuro. A prioridade na prospecção deveria ser dada ao litoral de Sergipe e à bacia do Alto Amazonas.


Cinquenta anos depois, o País entrou em fase de deslumbramento com o pré-sal, antecedido por inúmeros campos petrolíferos instalados no Atlântico. Os sinais do combustível, no Ceará, datam de 1966, tendo Paracuru como o norte das pesquisas. O óleo aqui encontrado é raro, fino e de alta qualidade, prestando-se para a composição de combustíveis especiais. As explorações realizadas no litoral de Paracuru confirmam o parecer de Mister Link, corrigindo-o, no entanto, sobre o potencial da reserva abrigado no subsolo. A fazenda Belém, em Icapuí, é um exemplo de milhares de campos de produção em terra instalados no País.


Diante do compromisso do governo federal de implantar uma refinaria Premium II no litoral de Caucaia, o Estado, de pronto, lhe assegurou água como insumo essencial; acesso por rodovias e ferrovia; base física para as instalações; porto moderno para exportação de seus produtos e tudo o mais requisitado para a consolidação do empreendimento.


Desde quando a economista Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras, a questão da refinaria no Ceará foi postergada como excluída do interesse prioritário. Mas foi somente na conturbada reunião do Conselho de Administração da empresa, nesta semana, que se proclamou o veredicto: não há condições de continuar o projeto da refinaria. A justificativa da decisão foi embasada em dois motivos que sempre foram questionados desde o anúncio do projeto: falta de retorno financeiro e de sócios confiáveis para a realização da obra.


De acordo com as primeiras informações, o projeto ora descontinuado poderá ser retomado dentro de dez anos, quando as condições mercadológicas o favorecerem. Dá para acreditar?


Caiu a máscara política do projeto; a fantasia foi rasgada antes do Carnaval.





Fonte: Editorial – Diário do Nordeste (30/ 01/ 15)

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