quinta-feira, 16 de março de 2017

Aquiraz: “Sou uma índia apaixonada / Apaixonada por minha terra”




São com esses versos que Maria de Lourdes da Conceição Alves, mais conhecida como Cacique Pequena, prende a atenção de quem passa para conhecer a aldeia da tribo Jenipapo-Kanindé, nos arredores da Lagoa da Encantada. “Nós somos filhos nativos da terra. A sétima geração! E tenho muito orgulho de ter essa herança dos meus pais”.

Pequena é a primeira cacique mulher do Ceará. Virou cacique porque, desde muito cedo, começou a lutar pela causa indígena. “Antigamente, a gente não era reconhecido como índio, mas como ‘os cabeludim da Encantada’. Comecei essa luta, na década de 1980, para que os índios defendessem eles mesmos. Porque eles dormiam no tempo. Foi aí que levantei a bandeira e disse que ia trabalhar por esse povo”.

Onze anos depois vieram os pedidos para que ela assumisse o cacicado que, à priori, foi recusado. “Não sabia o que era ser cacique. Eu era uma simples mãe. Eles insistiram muito e aceitei. E hoje, com a força do pai Tupã e da mãe Tamaí, cheguei onde cheguei”.

A mais de duas décadas à frente da tribo, Pequena fala com segurança o papel de uma cacique: “é ser como um prefeito, um governante da tribo. É juntar de fora para dentro da aldeia, pra ajudar o povo. Foi o que fiz”.





Não é à toa que hoje tem Escola Indígena, Museu Indígena, Pousada Indígena, Cras Indígena (Centro de Referência da Assistência Social) e Posto de Saúde Indígena. “Energia e água nas casas, casa de farinha, galpão e cantina. Tudo isso através dessa mulher que tá aqui na sua frente e na desse povo todo. Eu era uma simples cacique e agora sou Guardiã da Memória, Mestre da Cultura e vou receber o meu certificado de Doutora da Mata”.



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