Historiador lança,
hoje, o livro "O ouro do mar", no qual relaciona a pesca artesanal
local e global
As redes lançadas no litoral brasileiro carregam desafios
semelhantes àqueles enfrentados no litoral português. É a história dos pescadores
artesanais - que utilizam de pouco ou nenhum recurso auto-mecânico nas suas
atividades - que toma forma num estudo comparado de conflito e cooperação das
comunidades marítimas daqui e de lá, desenvolvido pelo jornalista, historiador
e sociólogo Túlio Muniz em seu livro "O ouro do mar", a ser lançado
nesta terça-feira, às 19h30, na Associação dos Docentes da Universidade Federal
do Ceará (Adufc).
O trabalho sintetiza a tese de Mestrado, concluída em
2005 no Departamento de História da UFC, e a dissertação de Doutoramento,
apresentada na Universidade de Coimbra, em 2011. A intenção, nada simples:
'sociologizar' a História. Na busca, um primeiro encontro com a "guerra da
lagosta", um conflito diplomático que, em 1963, envolveu o Brasil e a França
numa contenda informativa e quase militar em torno do acesso à renda da pesca
industrial da lagosta, o "ouro do mar", cuja exploração capitalista
começara anos antes na costa nordeste do Brasil.
A segunda parte do livro, por sua vez, se debruça nas
observações contemporâneas do autor sobre os reflexos do passado em comunidades
marítimas do litoral cearense e português. De acordo com o historiador Álvaro
Garrido, responsável pelo prefácio da obra, a pesquisa evita o excesso de
representações etnológicas, que persistem nos discursos do mar.
"Túlio Muniz lançou a rede a um estudo de sociologia
histórica das identidades pós-coloniais que tomou como territórios de
comparação a vila de Redonda, em Icapuí, no Brasil, e a comunidade de
pescadores de Silvalde, na cidade de Espinho, em Portugal", explica.
Garrido acrescenta, ainda, que a obra é crítica e
militante, comparativa e intercultural. "O autor se empenha em
desconstruir as relações entre o 'global' e o 'local', propondo uma crítica dos
conceitos de regulação e desenvolvimento sustentável", reconhece no
prefácio.
O "saber
fazer"
A última reflexão desenvolvida na pesquisa de Muniz diz
respeito ao potencial cognitivo e pedagógico que advém do "saber
fazer" das populações de pescadores artesanais, quase sempre desconsiderado
nas elaborações de políticas educacionais e macro-econômicas. É a partir desse
gancho que o autor trabalha a proposta de "educação ecosófica", que
vem, segundo ele, no sentido de reforçar e demonstrar a possibilidade desse
encontro dos 'saberes bárbaros' com o saber pedagógico 'formal'.
Alicerçado no arriscado paralelismo da ecologia dos
saberes de Boaventura Santos e da ecosofia de Guattari, Muniz propõe um diálogo
intercultural. "Tal junção teórica só me foi possível no campo sociológico
dos Estudos Pós-Coloniais, no qual não só é possível como necessário recorrer a
diversas áreas do pensamento", atenta o autor.
Assim, Muniz propõe a "educação ecosófica" como
uma possibilidade de eclodirem processos ético-políticos que mudem o modelo de
escola atual, estreitando a relação das escolas com o mundo ao seu redor, do
qual vem os jovens que nelas estudam.
Livro
O Ouro do Mar
Túlio Muniz
Annablume
2014, 252 páginas
R$ 30 (no lançamento)
Túlio Muniz
Annablume
2014, 252 páginas
R$ 30 (no lançamento)
Mais informações:
Lançamento do livro "O ouro do mar", de Túlio
Muniz. Hoje (2), às 19h00, na Adufc (Av. Da Universidade, 2346, Benfica).
Contato: (85) 3066.1818
Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (02/ 12/ 14)
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