Comunidade
Jenipapo-Kanindé substitui práticas como queima do solo e adota técnicas
sustentáveis. Expectativa é de aumento da colheita
Fábio Alves cultiva a terra
com técnicas sustentáveis
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A esperança do índio Francisco Maurício é de que as
próximas colheitas sejam fartas e que o roçado, antes queimado para receber a
plantação, esteja saudável com as novas técnicas de cultivo. Ele faz parte da
comunidade Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, atendida pelo projeto Matas da
Encantada.
O projeto, desenvolvido pela Associação para o
Desenvolvimento Local co-produzido (Adelco) com o patrocínio da Petrobras, é
experimental e tem o objetivo de promover a consciência ambiental e práticas
agroecológicas como opções sustentáveis de produção de bens e serviços.
Antes do projeto, a comunidade explorava o solo com
práticas tradicionais, queimando e desmatando o roçado. Dava resultados rápidos
no primeiro ano, mas depois disso a terra se tornava menos produtiva,
diminuindo a quantidade de alimentos colhidos e causando erosão.
Atualmente, os índios usam técnicas de reflorestamento.
Cada hectare terra deve conter 200 árvores. Essa vegetação, que antes era
cortada e tinha os galhos queimados, é deixada no terreno para sombrear as
plantações e ajudar na fertilização do solo. As folhas que caem, ao se
decompor, ajudam no ciclo de nutrientes. Galhos são cortados em pequenos
pedaços e servem como adubo.
Os animais também são importantes. Antes, quando o pasto
secava, os índios os deixavam no terreno agrícola e eles danificavam a lavoura.
Agora, quando milho e feijão forem colhidos, os animais entrarão no local para
se alimentar dos restos de plantação e ajudar na fertilização com o esterco
produzido. Depois, voltam ao terreno pastoril.
A Adelco fez palestras e oficinas para ensinar os índios
a plantar sem degradar o solo. Davi de Alencar, agrônomo da Adelco, conta que,
no início, os índios tiveram receio. Mas, ao verem os primeiros resultados,
ficaram esperançosos.
Na prática
No fim de 2014, a comunidade começou a preparar a terra
com as novas técnicas. Em 22 de fevereiro, fizeram as primeiras plantações.
Tudo o que é colhido é para a subsistência da aldeia.
O engenheiro agrônomo Ambrósio de Araújo ajudou a
implantar o projeto na comunidade. Ele afirma que a média de produção usando as
técnicas tradicionais de queima do solo era de 2,4 kg de grão por hectare. Com
as novas técnicas a produtividade chega a 500 kg de grão/hectare.
“Isso não é uma estimativa. São resultados que já
comprovei em outras comunidades em que foram implantadas as mesmas técnicas”,
afirma.(Lérida Freire, especial para O POVO)
Saiba mais
Antigas técnicas.
O solo era queimado e, com o tempo, ficava improdutivo.
Árvores eram derrubadas e os galhos eram queimados.
Quando o pasto secava, animais eram levados ao lugar da
plantação. Danificavam a lavoura e desequilibravam o processo de colheita.
Novas técnicas
O solo não é mais queimado. Produtos como bagana de
carnaúba retém água da chuva e deixam o solo úmido. Árvores dão sombra à
lavoura e as folhas que caem nutrem o solo.
Os animais, antes prejudiciais, ajudam. Após a colheita,
serão colocados no terreno agrícola para se alimentar dos restos de plantação.
O esterco liberado ajudará a nutrir o solo.
Fonte: Cotidiano – Jornal O povo (18/ 04/ 15)
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