Passeios a pé, guiados por jovens da comunidade,
propiciam um conhecimento diferenciado
A trilha mistura passeio entre a mata nativa e uma descida de
dunas até a praia
FOTO: ELLEN FREITAS
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"Um lugar
para se sentir". É assim que os moradores da Praia de Ponta Grossa, no
Litoral Leste do Estado, neste município, a definem. O local, de beleza
paradisíaca, mais parece um oásis por entre as dunas. Todo esse ambiente é
utilizado pela comunidade para oferecer tranquilidade aos visitantes e uma
variedade de atividades em harmonia com a natureza. Entre as opções, está a
Trilha Ecológica de Ponta Grossa, que mistura passeio entre a mata nativa
costeira e uma descida de dunas até a praia, tudo a pé, num percurso que
compreende cerca de 2km.
O trajeto foi criado pela comunidade que
sobrevive, além da pesca, do turismo de base comunitária. No trecho da mata de
tabuleiro, plantas com fins medicinais e de utilidade para os pescadores, como
para a produção de madeira de embarcações, são cuidadosamente destacados, além
das paradas com vista privilegiada para o mar. O percurso segue a um dos pontos
mais altos da Costa Leste, onde e possível avistar a localização da Praia de
Canoa Quebrada, em Aracati.
Para tanto, 20 jovens da comunidade foram
capacitados, com apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do
Estado do Ceará (Sebrae-CE). Eles aprenderam sobre a ocupação, a fauna e a
flora, além da importância do lugar para o História do Ceará. Tudo é contado
durante o percurso, que dura, em média, uma hora.
Um dos guias, Ágabo Crispim, 21, conta que,
antes da oportunidade com o turismo, era pescador. Segundo ele, as crianças
começam cedo a acompanhar os pais no mar, passando a tradição de geração para
geração. Com a experiência que adquiriu levando pessoas pelo passeio, conta que
pode aprender mais sobre a comunidade, além de conhecer pessoas de vários
Estados. Ele acrescenta que, em períodos de alta estação, chega a acompanhar
três grupos por dia, onde cada passeio leva, em média, 20 pessoas. Os passeios
custam aproximadamente R$ 40. Todo dinheiro que é apurado pelos jovens serve de
caixa para pagamento de despesas, além de ser distribuídos como renda extra
para os mesmos.
"Uma das histórias que a gente conta
sobre a comunidade é a famosa lenda da índia Macura. Essa história chama
atenção por que conta um pouco das nossas raízes. Se você perceber aqui na
comunidade as pessoas são muito diferentes. Ou são mais parecidos com índios.
Ou são brancos dos olhos azuis. Ou são negros. Essa mistura nos membros de uma
mesma família chama atenção e a gente gosta de destacar", conta Ágabo.
A localidade de Ponta Grossa é uma das
menores de Icapuí e abriga 74 famílias, cerca de 250 pessoas. Em 1997, o
turismo ainda não era explorado e, diante da necessidade de oferecer um ponto
de parada para turistas e bugueiros que faziam o trajeto Canoa Quebrada, em
Aracati, até Natal, no Rio Grande do Norte, no ano seguinte foi fundada a
Associação de Pesca Artesanal de Lagosta de Ponta Grossa. Após esse ponta pé de
organização da comunidade, as estruturas de barracas de praias e pequenas
hospedarias ao lados das casas dos próprios pescadores foram tomando forma.
Segundo conta o coordenador de Turismo
Comunitário de Ponta Grossa, Eliabe Crispim, a comunidade já organizada
precisava ser fortalecida e, em 2008, integrou a Rede Tucum, que ele explica
ser uma articulação de comunidades em várias praias do litoral cearense que
fazem turismo comunitário. Essa rede, ele acrescenta, contempla 12 praias, que
visam, nessa modalidade de turismo, equilibrada com o meio ambiente, geração de
renda para seus moradores.
"A nossa
inserção na rede contribuiu principalmente para nos auxiliar na capacitação dos
moradores. Um dos diferenciais do turismo comunitário é estar mais próximo do
turista, inseri-lo dentro da nossa comunidade, onde convive e aprende um pouco
sobre o lugar, além do respeito à natureza. Tudo é pensado para que os
visitantes saiam daqui com desejo de voltar", ressalta Eliabe Crispim.
Além da Trilha Ecológica, há outras opções,
como o passeios de jangada até o local de pesca da lagosta, onde o turista pode
conhecer como se dá o processo de pesca artesanal, que é a base que sustenta a
economia local, além do passeio de buggy pela costa e outros.
"Nós estamos trabalhando para que logo
possamos construir um museu aqui na comunidade. Nossa região é repleta de
utensílios e objetos deixados por colonizadores, inclusive já foram encontrados
objetos do tempo das cavernas. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional) já esteve mapeando a área para futuras escavações e nós na
comunidade guardamos esses objetos, como peças que contam nossa história.
Futuramente esperamos que o turista também possa contar com mais essa opção de
passeio", finaliza.
Mais Informações:
Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede
Tucum)
Ellen Freitas
Colaboradora
Colaboradora
Fonte: Regional – Diário do
Nordeste (28/ 03/ 15)
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