Com estruturas montadas em
periferias, a arte de levar a alegria garante o sustento dos artistas circenses
Pimenta, o patriarca da
família de artistas circenses que vive na estrada FOTO:
FABIANE DE PAULA
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Ainda que os circos sejam conhecidos pela espontaneidade e pela alegria,
o trabalho realizado pelos artistas vai além dos espetáculo apresentado no
picadeiro.
Donos do palco e dos
números, os artistas se apresentam, diariamente, em uma maratona interminável.
"Vivemos na periferia da cidade, em um lugar onde não tem cultura e arte.
Nós trazemos um pouquinho de alegria para esses bairros e, principalmente, para
o Interior, que são mais isolados", diz o Palhaço Pimenta, que após 54
anos atuando em picadeiros, não demonstra esmorecimento quanto a seguir o modo
de vida que escolheu para si.
Mesmo com tanto tempo de
estrada, o palhaço diz que as dificuldades não diminuem. "Trabalhamos,
basicamente, para sobreviver. O dinheiro que recebemos vai um tiquim para a
gasolina, um tiquim para alguém e um tiquim para a comida", relata.
Junto com o palhaço,
batizado como José de Abreu Brasil, trabalha sua família: esposa, quatro filhos
e duas noras. Todos sem endereço fixo, vivendo em itinerância junto ao circo.
"Moramos, trabalhamos e dormimos no circo. Foi o ambiente em que criei
todos os meus filhos", fala com alegria o palhaço Pimenta, que atualmente
está com a lona montada em Aquiraz, com sessões que custam R$3 (adulto) e R$2
(criança).
A vida da estrada impõe
dificuldades especiais. A educação, entretanto, dos filhos não é negligenciada
por Pimenta, nem pelos outros artistas.
Itinerantes, as famílias
circenses são amparadas por leis, que garantem vagas em escolas,
independentemente do período letivo. Os artistas se valem, normalmente, do
artigo 29 da Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978 - que dispõe sobre a
regulamentação das profissões de artistas e de técnico em espetáculos de
diversões -, e do decreto-lei 99.710, de 21 de novembro de 1990, que dispõe
sobre os Direitos da Criança.
Apesar dos textos que
legislam em parte sobre a atividade do circo remeterem há mais de três décadas,
para Círio Brasil, presidente Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas
de Circo do Ceará (Apaece), a manifestação e o modo de vida itinerante só foi
reconhecido e valorizado em Fortaleza a partir de 2006, quando um conjunto de
ações foram tomadas para garantir a continuidade de uma expressão artística
popular.
"Foi a partir daí
que o circo começou a ser visto de verdade. Até então, entrava e saía gestão e
nós seguíamos ignorados", reforça Círio, que nasceu e se criou sob uma
lona.
"Meus pais eram
artistas e se conheceram no circo. Eu e meus irmãos seguimos o mesmo
caminho", afirma. "Com os meus filhos, essa é a terceira geração da
família que escolheu o picadeiro como forma de vida". A paixão é o que
move os artistas itinerantes, mas Círio não nega as dificuldade.
"Nossa vida é
sofrida", destaca. Ainda assim, ele segue com o seu show, com
apresentações diárias, que serão realizadas em breve no Conjunto Ceará, em
Fortaleza.
FIQUE
POR DENTRO
Lei do Circo ainda aguarda regulamentação
Sancionada em 24 de
dezembro de 2012 pela Prefeitura de Fortaleza, a Lei Nº 9959, popularmente
conhecida como Lei do Circo, visa estabelecer "normas de instalação e
funcionamento dos circos itinerantes e das escolas de circo" na Capital.
Entretanto, após mais dois anos, a Lei ainda não foi regulamentada e colocada
em prática. Além da instalação de circos itinerantes e da criação de uma Escola
Municipal de Circo, que espera a regulamentação para ser definida, a Lei,
sancionada no fim da gestão da prefeita Luizianne Lins, prevê o apoio das
secretarias municipais de Educação (SME) e Saúde (SMS) em atender os artistas
circenses e seus familiares, em qualquer posto de saúde e escola da cidade,
além da promoção de outros benefícios para os profissionais que não têm
residência fixa. A Lei abraça apenas os integrantes de circo tradicional, de
lona.
Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (26/ 03/ 15)
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