Apaixonado
pelas belezas naturais do Ceará, o fotógrafo Maurício Albano, falecido na
última quarta-feira (11), deixa por legado seus registros fotográficos e a
filosofia de uma vida modesta, sem pressa
Uma pessoa que se dedicou a registrar as
paisagens naturais do Ceará. Assim foi descrito por amigos e familiares o
fotógrafo Maurício Albano. Homem simples, amante da natureza, Maurício faleceu
na manhã da última quarta-feira (11), em uma despedida súbita. Morreu no sítio
em que morava com os dois filhos e foi velado na própria casa, rodeado das
pessoas que amava.
Albano deixa um legado de imagens de um Ceará
que se transforma, muitas vezes, de maneira irreversível. Por isso, o fotógrafo
prestava reverência ao belo efêmero, eternizando através de suas lentes fauna,
flora, saberes, fazeres e celebrações, principalmente do interior do Estado, e
o ambiente insólito da caatinga, que para Maurício tinha uma beleza peculiar.
O corpo do fotógrafo foi cremado e as cinzas
lançadas nas águas que banham a Praia de Picos, em Icapuí, cidade a 172 km de
Fortaleza. Maurício possuía uma casa rústica - comprada há 15 anos - próxima à
praia e tinha planos de ampliar o prédio e transformá-lo em uma pequena
pousada, para a qual se mudaria. As falésias do local o "deixavam
doido", como ele mesmo afirmou.
A casa que lhe serviria de morada foi
construída através de seu próprio esforço e do seu talento como arquiteto não
diplomado. "Ele tinha um estilo de construir que eu defino como rústico
requintado", diz a filha, Marisol Albano.
Divino
"A fotografia é uma coisa divina. Ela
para o tempo, para a imagem. Ela tem a memória, que é a coisa mais importante.
Conta uma história de como era. Tem tanta coisa na minha obra que virou
história no Ceará", disse, em dezembro do ano passado, durante conversa na
TV DN, web TV do Diário do Nordeste, uma das suas últimas entrevistas
concedidas.
Maurício Albano começou a fotografar nos anos
1960, somando mais de 50 anos dedicados à imagem. Sua formação envolve ainda
viagens ao exterior, entre 1970 e 1972, com bolsa de estudos da Comissão
Fullbrigh do Governo dos Estados Unidos da América.
Com isso, obteve o mestrado em Fotografia na
Newhouse School of Public Communications da Syracuse University, Nova York,
percorrendo, em seguida, os Estados Unidos, o Canadá e 12 países da Europa em
viagens fotográficas, experiência que gerou cinco exposições individuais.
Dedicação
Apaixonado pela natureza, dedicou a vida a
registrar imagens bucólicas, semelhantes à vida que levava com os filhos em seu
recanto. "Ele plantou quase todas as árvores do sítio e acompanhava de
perto o crescimento de cada uma delas. Nos últimos dias, estava particularmente
feliz com um pé de graviola, que nunca antes tinha dado tantos frutos",
diz Marisol Albano, filha do fotógrafo. "Essa é a grande lição que ele
deixa para a gente: a sabedoria de ser feliz com coisas simples",
completa.
A sua paixão contagiou os dois filhos.
Influenciados pelo pai, Marisol tornou-se bióloga e hoje atua como
arte-educadora ambiental. Já Ciro, o mais velho, decidiu estudar a vida das
aves e virou ornitólogo. "Foi com ele que aprendi sobre o Ceará Profundo.
Ele conseguia identificar como ninguém a alma do Estado", diz a socióloga
Fátima Façanha, amiga de Maurício. Fátima esteve com o fotógrafo há cerca de um
mês.
Aos domingos, Maurício costumava tomar café
da manhã na casa do artista plástico Hélio Rola, seu "vizinho" de
bairro e amigo íntimo. "Fomos vizinhos na Praia de Iracema dos anos 1970.
Ele morava na Rua dos Tabajaras e eu na dos Potiguaras. Já nos conhecíamos
antes, mas foi lá que fizemos amizade. Tínhamos essa ligação visual, ele com a
fotografia e eu com as artes gráficas. Como eu também era amigo de José Albano,
essa relação ficou mais estreita", relembra.
"Sem dúvida ele deixa uma marca através
dos seus livros de referência, que possuem um valor inegável", completa. A
simplicidade e sensibilidade de Albano inspiravam quem estava ao seu redor.
"Está ouvindo esse vento? Essas folhas balançando? Essas frutas? Isso é
Maurício. Ele era todo prosperidade, luz, criação e amor", diz a ex-esposa
Selma Ginez em entrevista concedida no sítio do fotógrafo. Definindo-o como um
homem de índole firme, a artista plástica destaca que ele se chateava com as
coisas como são em Fortaleza, cidade que ele classificou como "Miami mal
resolvida".
Em seu livro mais recente, "Panoramas -
Ceará por inteiro", o fotógrafo reuniu um pouco de sua produção ao longo
da vida em que registrou o Ceará do litoral ao sertão. "Tenho um chamego
pelo Ceará. E é buscando o lado lindo que ele tem, que consigo dizer para o
povo: 'olha, cuida desse bichinho, que é tão bacana, vamos cuidar dele'",
declarou em entrevista concedida à TV DN. Além da vasta bibliografia dedicada à
fotografia e às paisagens cearenses, Maurício deixa dois filhos e três netos,
um deles ainda por nascer.
Leonardo
Bezerra
Repórter
Repórter
Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (13/ 03/ 15)
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