Questão cultural
dificulta o combate no Estado; apenas ontem, Ibama apreendeu 3.500 avoantes
O tráfico de
animais silvestres está entre os três mais rentáveis do mundo, só ficando atrás
do mercado ilegal de drogas e armas. O Ceará entra na rota internacional desta
atividade como um dos principais fornecedores, principalmente de aves, para
consumidores do exterior e também internos, como de São Paulo e Rio de Janeiro.
O Estado possui ainda uma particularidade quando o assunto é mercado ilegal de
aves: a caça das avoantes, que são aves migratórias comuns na Região
Nordeste.
Ontem, inclusive, cerca de 3.500 delas foram
apreendidas já abatidas durante operação realizada pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em parceria com a
Polícia Militar do Ceará, na Região dos Inhamuns, nos municípios de Parambu, Tauá
e Aiuaba. Na ocasião, 22 pessoas foram presas por envolvimento em crime
ambiental e devem pagar R$ 500 de multa por cada ave apreendida.
As avoantes estão em período de reprodução e,
por isso, como afirma o chefe do escritório regional do Ibama em Iguatu, Fábio
Bandeira, se tornam uma presa fácil durante a noite, pois voam menos e ficam
mais concentradas nos arredores dos ninhos nessa época.
Segundo Bandeira, apesar do grande número de
prisões, muitos caçadores ainda conseguiram fugir, mas a operação seguirá com
fiscalização intensa na região e em busca dos suspeitos por cerca de 60 dias,
período em que as aves ainda estarão em período de reprodução. Cerca de oito
caçadores presos são naturais do Piauí e estavam no Ceará para a prática o
crime. Nos estados nordestinos, o enfrentamento deste tipo de crime tem sido
difícil. Os órgãos ambientais fiscalizam, há punições, mas existem também
questões culturais que dificultam o combate, como o hábito de criar pássaros
sem respeitar a legislação e as feiras livres.
É delas, como afirma o analista ambiental do
Ibama (Ceará), Alberto Klefasz, que vem a maioria dos animais apreendidos pelo
órgão. Mensalmente, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) recebe
450 animais, sendo aves a maioria. “Dessa quantidade, 80% são apreensões do
Ibama, a maioria é bicho retirado de feiras e os outros 20%, denúncias da
população”, certifica.
As feiras também não são locais apropriados
para estes bichos, já que eles precisam de cuidados e ambientes adequados.
Muitos deles morrem no local por desidratação e maus tratos. Para cada animal
que chega vivo nas feiras, nove morrem, afirma o Ibama.
Transporte
Muitas vezes, o mercado popular é apenas o
começo de uma longa viagem. Segundo o Ibama, é comum os Correios entrarem em
contato com o órgão por perceberem o transporte de animais dentro de caixas.
Normalmente, são répteis dopados e mais fáceis de levar.
A legislação brasileira proíbe qualquer tipo
de transporte de seres vivos. Denúncias podem ser feitas para o Ibama
(0800.618.080) ou através da Superintendência Estadual do Meio Ambiente
(Semace)– (0800.2752.233 ou 3101-5512).
Criadores devem ter autorização
Hábito que faz parte do cearense, a criação
de aves necessita de atenção especial. Para agir de acordo com a legislação, é preciso
ficar atento às origens do animal. Assim como cachorros, os pássaros precisam
de cuidados e atenção dos seus donos.
A lei determina que os animais silvestres
sejam comprados em criadouros autorizados pelo Ibama tenham a nota fiscal e, no
caso das aves, que venham com anilhas de identificação.
“O comprador deve ter consciência das
necessidades do animal que ele está levando pra casa. Ter um espaço adequado,
dar a possibilidade de boa saúde e alimentação”, afirma Roberto Cavalcante,
assessor do setor de defesa de fauna da diretoria de fiscalização da Semace.
Para os fins amadores, cada cidadão só pode
possuir em sua residência o limite máximo de 100 aves, independentemente de
constar com a documentação exigida pelo o Ibama.
Aqueles que desejam ser criadores autorizados
precisam entrar em contato com o órgão responsável e preencher os quesitos
exigidos. O primeiro passo é realizar o cadastro no site do Ibama
(www.ibama.gov.br). Depois, a pessoa passa por avaliações e é encaixada em
alguma das categorias.
No Ceará, são 23 criadores autorizados.
Reinaldo Leite Viana Neto é um deles. O veterinário e proprietário de um pet
shop começou a receber aves apreendidas em 2002 e, atualmente, possui 260
pássaros, entre araras, periquitos e até tucanos.
“Se quisesse receber mais aves todos os
meses, poderia, mas o gasto para mantê-las bem cuidadas é muito alto”, afirma
Reinaldo. Quando os pássaros chegam ao local destinado, precisam de cuidados
especiais, pois na maioria das vezes foram vítimas de maus-tratos e estão e
debilitados. Depois de tratadas, as aves passam por avaliações para
determinarem se elas permanecerão no viveiro ou se poderão ser devolvidas para
a natureza.
O veterinário conta que, normalmente, os
animais ficam nas reservas. “A maioria deles vem mutilada e com muitos traumas.
Os filhotes quase nunca conseguem regressar à natureza, quando eles observam os
pais sofrendo, absorvem isso pra si”, relata.
Doméstico
Nem todos os animais precisam ter autorização
do Ibama. Calopsitas, periquitos australianos, avestruzes e emas são
considerados aves domésticas, se enquadrando na mesma categoria que gatos e
cachorros.
O órgão responsável pela fiscalização da
venda desses animais é o Ministério da Agricultura, que deve regulamentar os
estabelecimentos de comércio.
Fonte: Diário
do Nordeste
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