sexta-feira, 25 de abril de 2014

Unilab suspende aulas após protesto estudantil

Sem receber auxílios, estudantes estariam com dificuldades de pagar aluguel e até de comprar comida.


Estão suspensas, por tempo indeterminado, as aulas nos campi dos municípios de Redenção e Acarape da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). O motivo alegado pela instituição é a invasão de salas de aula por parte de um grupo de alunos, que estariam obstruindo aulas, causando prejuízos em patrimônio público e ameaçando professores. Estudantes fizeram ameaça de greve na instituição. O motivo seria o atraso no pagamento de auxílios estudantis. Alunos alegam atraso de até quatro meses, mas a reitoria da Unilab diz que o atraso foi de apenas 18 dias.

Por trás da situação, uma dificuldade admitida pelos dois lados: a dificuldade financeira de muitos estudantes, especialmente em alimentação e moradia. As aulas foram suspensas no campus Liberdade, em Redenção, e campus Palmares, no município de Aurora.

A interrupção das atividades acadêmicas foi oficializada na manhã de ontem pela reitoria da universidade. No mesmo dia, os auxílios em atraso foram pagos, conforme a instituição.

O principal ponto de divergência é sobre a dimensão do atraso em pagamentos, que segundo a Unilab fora de apenas 18 dias, porque se estava aguardando repasse pelo Ministério da Educação. Cada estudante pode receber até dois dos quatro auxílios disponíveis por mês: moradia (R$ 380), alimentação (R$ 150), transporte (varia de R$ 90 a R$ 270) e social (R$ 380, para indivíduos em extrema vulnerabilidade). Outros dois auxílios são eventuais: de instalação (R$ 760, repassado apenas uma vez para compra de móveis) e auxílio emergencial (R$ 380, para quem se enquadra em situação de extrema vulnerabilidade).

Aluguéis caros

Os alunos alegam que o principal elemento de dificuldade financeira é a moradia. Como a própria reportagem atestou em Redenção. Desde o início das aulas da Unilab, há três anos, aumentou o valor do aluguel na cidade. "Comprometemos boa parte da bolsa com aluguel de onde moramos, que parece que para nós cobram mais caro que para quem não é estudante da Unilab", afirma Maira Badinca, estudante de letras. Ela foi informada ontem pelos colegas que não haveria aula.

Inicialmente, aos novatos é oferecido o Programa de Hospedagem Solidária, que tem duração de até 45 dias, tempo para vencer a burocracia da liberação dos auxílios. Estudantes recém-chegados de Guiné-Bissau alegam que ontem foi o primeiro auxílio que receberam em quase quatro meses de estadia. "Dizem para os nossos pais que vamos ter até residência gratuita, mas chegando aqui a realidade é outra", afirma um estudante guineense que pediu para não ser identificado. A residência estudantil, em construção, só será entregue em 2015. A universidade alega que os manifestantes danificaram lousas digitais, equipamento entre os mais caros da instituição. A tensão que ocorre nesta semana na Unilab tem assustado professores, que se sentem ameaçados, e estudantes.

Os principais envolvidos, entre denunciantes e denunciados, não querem se identificar e a própria universidade tem se manifestado por meio de nota. Primeira universidade no mundo a integrar os países de língua portuguesa, a Unilab recebe, além de estudantes brasileiros, alunos de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Melquíades Júnior
Repórter


Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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