A pista foi construída para que a rede de telégrafos
pudesse ser levada de Fortaleza até Aquiraz, no século XIX
Ao longo da Estrada do Fio, é possível encontrar
realidades diferentes de acordo com cada um dos três municípios - Fortaleza,
Eusébio e Aquiraz - pelos quais a via passa. Enquanto, no início, a urbanização
é evidente, na segunda parte da via, as casas e sítios que não estão
abandonados foram postos à venda. Já no fim, há a falta de água, problema
causado pela estiagem.
Na parte da estrada que fica na Capital, tudo é bastante
urbanizado, com um grande número de casas e estabelecimentos comerciais, até
mesmo próximo do ponto turístico do local, o Centro das Tapioqueiras,
localizado na CE-040. O reflexo disso é a melhoria da qualidade de vida da população,
ressalta o comerciante Barcelar do Nascimento, que já completou 12 anos de
moradia às margens da via.
"A Estrada do Fio está crescendo bastante. Temos
muitas construções sendo feitas e várias lojas sendo abertas. Por isso mesmo
que precisamos que a estrada seja alargada, faz muito tempo que esperamos essa
mudança", exigiu o comerciante.
A pista tem sido a vizinha da dona de casa Miriam Ribeiro
Silva nos últimos 24 anos. Ao contrário dos primeiros anos, hoje, ela não gosta
mais de residir no Bairro Olho d'água, no Eusébio. "Com o passar do tempo,
foi tudo piorando. Agora está muito perigoso, tanto que não temos sossego nem
em casa".
Até mesmo as condições do asfalto pioraram nos últimos
anos, lembrou Miriam. Em alguns trechos, principalmente naquele município,
quase não se vê mais o piso e, por isso, os motoristas são obrigados a trafegar
sobre pedras que acabam prejudicando os veículos.
A situação ruim é refletida no grande número de casas e
sítios colocados à venda naquela parte da autopista. Além disso, é grande o
número de locais que deveriam abrigar comércios e estão completamente
abandonados.
No fim da estrada, já na cidade de Aquiraz, as
construções, sítios e lojas são quase inexistentes. Eles dão lugar a pequenas
casas e muito matagal. No bairro Tupuiú, onde a comerciante Lélia Teixeira mora
há dez anos, a maior preocupação nos últimos meses é a falta d'água.
"Aqui, a Cagece não chega. As 30 casas que ficam nessa área vivem do
carro-pipa que a Prefeitura manda uma vez por semana".
Como apenas a ajuda do poder público é insuficiente, ela
disse que a população se juntará para pagar a escavação de um poço profundo.
Cada morador terá que desembolsar R$ 700 até o mês de dezembro para que a obra
seja feita. "Só assim mesmo para não termos que comprar água todos os
dias", ressalta.
Telégrafos
A Estrada do Fio tem importância na expansão de Fortaleza
e Região Metropolitana (RMF), pois, no século XIX, era por lá que passava a
rede de telégrafos até Aquiraz, que foi a primeira Capital do Estado. "Até
os anos 80 ainda existiam os postes por onde passavam os fios do
telégrafo", conta o poeta e escritor do livro "Messejana - Um lugar
mágico", Edmar Freitas.
Até o século XX, a pista era utilizada como o principal
acesso a todo o litoral leste do Ceará, comentou Freitas. "Infelizmente o
povo não valoriza essa questão histórica. Ainda mais com a correria dos dias de
hoje", ressalta.
Apesar de ter sido um pouco esquecida após a modernização
da CE-040 e de quase tudo ao seu redor, a via continua sendo bastante
relevante, na avaliação do professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e
membro do Observatório das Metrópoles, José Borzacchiello da Silva.
"A estrada continua sendo importante, pois ela
funciona como via alternativa. Ela apresenta um habitat original que, mesmo com
as transformações recentes do espaço metropolitano, preserva aspectos do modo
de vida dessa porção localizada entre o mar, dunas, lagoas e rios",
destaca o professor.
Carro-pipa
A assessoria de comunicação da Prefeitura de Aquiraz
informou que o município está em estado de emergência. Para a localidade de
Tupuiú são fornecidos 7.500 litros de água semanalmente por um carro-pipa, foi
construído um chafariz e feita a escavação de poço profundo.
Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu
contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura do Eusébio para
esclarecimentos sobre a pavimentação.
Rádio Observatório surpreende motoristas
Após motoristas e ciclistas passarem pela ponte sobre o
Rio Coaçu, já se localizam na parte da Estrada do Fio que pertence ao município
do Eusébio. Depois de trafegar um pouco, é possível observar facilmente uma
grande antena no meio de várias árvores. Significa que o condutor está próximo
do Rádio-Observatório Espacial do Nordeste (Roen), do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe).
Naquele local, são desenvolvidas atividades relacionadas
com pesquisas nas áreas de Geodésia Espacial, Geodinâmica, Geomagnetismo,
Astrofísica, Física da Ionosfera e Processamento Inteligente de Sinais.
Os trabalhos relacionados a essa última atividade são
desenvolvidos pelo Projeto de Cooperação Técnico-Científica suportado pelo
convênio entre o Instituto e a Universidade Federal do Ceará (UFC).
O Programa de Geodésia Espacial foi inicialmente
coordenado pelo Centro de Rádio-Astronomia e Aplicações Espaciais (Craae), que
instalou a antena e toda a instrumentação. O Roen é atualmente coordenado pelo
Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica da Universidade Presbiteriana
Mackenzie (Craam).
Thiago Rocha
Repórter
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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