Na última mesa da
Flaq, autores da "literatura marginal" discutem a escrita como
expressão da periferia
Todo escritor sonha em ganhar grandes prêmios literários,
como o Jabuti? Para muitos, a resposta para esta pergunta é um óbvio e sonoro
“sim”. Mas, não é bem por aí. Para Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, a
maior parte das premiações é voltada para uma literatura elitista, bem distante
da que ele pratica. “As pessoas que realmente escreveram para o povo, como o
Lima Barreto, nunca ganharam prêmios. Estamos do outro lado da coisa”, disparou
o paulistano na mesa literária que encerrou a Festa Literária de Aquiraz, neste
domingo (23).
Desde a última quinta-feira (20), 23 autores passaram
pelo Engenhoca Parque Educativo, sede da Flaq. No encerramento, o assunto foi a
literatura marginal, produzida na periferia dos grandes centros urbanos do
Brasil. Além de Férrez, autor de Capão pecado (2001), a mesa contou com o
educador, escritor e “traficante literário” Rodrigo Ciríaco. “Não me considero
um escritor, mas um contador de histórias. Costumo dizer que tiro minhas
histórias do estômago”, comentou o autor de Te pego lá fora.
Para ambos, a dureza das comunidades marginalizadas, a
violência, o tráfico e o pouco acesso a serviços públicos, fazem daquele
ambiente fonte de inspiração para uma literatura sem rodeios. “A realidade não
cabe no livro. Ela é mais cruel, mas cabe a tentativa de mostrar”, diz Ferréz,
que é morador do Capão Redondo, periferia de São Paulo. Ciríaco, que também
conhece essa dureza de perto, conta que usou a literatura como uma forma de
conviver com as dificuldades. “Precisei criar um mecanismo para sobreviver
àquele ambiente”, explica.
Ferréz também usou a literatura como uma forma de
retratar e dar voz àquele ambiente que o rodeava. “A revolta faz parte da nossa
literatura porque a gente vê o mundo de uma forma diferente. Quem mora na
periferia passa por uma grande escola, que é a dor. Eu escrevo para essas
pessoas”, diz o autor, que já trabalhou como balconista, vendedor e pedreiro.
Leitor desde muito cedo, ele teve que ouvir muita piada de quem não entendia
sua predileção pelos livros. “Ninguém respeitava. Diziam muito: ‘o filho do seu
Raimundo ou vai ser viado, ou evangélico, ou, pior, vai ser professor’”,
lembrou o escritor arrancando risos do público.
Fonte: Opovo
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