Restaram apenas as cinzas após
a queima dos barcos apreendidos da pesca ilegal
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GUERRA DA LAGOSTA´
Os "redondeiros" voltaram a fazer
justiça com as próprias mãos em novo capítulo da Guerra da Lagosta
Icapuí É o fim da trégua na guerra da lagosta. Logo no início do mês, de
retomada da pesca, o sumiço de um barco já capturado por pescar ilegalmente em
Icapuí causou a ira dos pescadores artesanais, que haviam feito a captura meses
antes como "prêmio". O roubo do barco aconteceu quando os artesanais
(pescam legalmente) foram para o mar. Na volta, ao perceberem o ocorrido, eles
atearam fogo nos outros barcos já capturados, um sinal claro para os pescadores
ilegais não ousarem novo "afronte". A suspeita de um "traidor"
corre solta na praia de Redonda. A Guerra da Lagosta, em terra e alto mar,
representa um estado paralelo que tem como principal financiador o comércio
(até exportação) de lagosta pescada com mergulho e marambaia, proibidos por
Lei.
No episódio anterior da Guerra da Lagosta, cerca de 1.600 pescadores cearenses
recebiam, no mês de maio, a licença de embarcação para a pesca da lagosta,
crustáceo que é sucesso até nas mesas mais refinadas do Mundo e que tem o Ceará
como maior produtor nacional.
O licenciamento foi porque desde 1º de junho os barcos puderam voltar ao mar,
com o fim do defeso para a pesca do produto. Centenas de pescadores da praia de
Redonda, em Icapuí, saíram com seus barcos para depositar no mar seus manzuás,
gaiolas de madeira com revestimento de linhas para captura da lagosta. É o
único equipamento permitido pela legislação para a pesca do crustáceo. Mas não
representa muito mais da metade da atividade nas embarcações que pescam
lagosta. Os pescadores da Redonda, para "compensar" a frágil
fiscalização do Ibama, fazem justiça com as próprias mãos e capturam barcos que
fazem a pesca ilegal.
Esses barcos são depositados na areia da praia como "prêmio" e uma comprovação
de que a pesca ilegal não é tolerada naquela região litorânea. Os
"redondeiros" saem para o mar no início da madrugada. E foi
aproveitando a praia deserta que homens, possivelmente de outras comunidades,
pegaram de volta um dos barcos, no caso do de um senhor conhecido por
"Língua".
Fac-símile traz reportagem
especial sobre a disputa entre pescadores legais e ilegais no Litoral Leste do
Estado, como forma de controle da captura da lagosta
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Cerca de 14 barcos pescando ilegalmente já foram capturados pelos
redondeiros nos últimos anos. Desses, ao menos seis que ainda estavam
depositados na praia foram incendiados no último fim de semana, para que não
pudessem mais ser retomados à revelia dos pescadores da Redonda, conforme
afirmam moradores da comunidade, que preferem não se identificar.
A rixa entre legais e ilegais é antiga, com troca de tiros em alto mar, mortes
de rivais e protestos em terra que só com muita força policial foram contidos,
mas mesmo assim não diminuíram em nada a rixa existente. Esses mais diversos
episódios compõem a Guerra da Lagosta, termo popularizado por este jornal, por
meio do Caderno Regional, que acompanha a problemática com reportagens
exclusivas. A pesca com mergulho, utilizando compressores de ar, não só é
proibida pela legislação ambiental como é um ato de agravo à saúde humana.
Os pescadores utilizam botijões de gás vazios como reservatórios do ar que será
usado para respiração até 20 metros abaixo do barco. Por sequelas da embolia
pulmonar causada pela atividade, pescadores em Icapuí já perderam parcial ou
total movimento das pernas.
No entanto, a exploração econômica é o principal incentivador dessa atividade:
enquanto num dia o pescador artesanal traz 20 kg de lagosta, o pescador
"alternativo" recolhe 350 kg. O lucro quase 20 vezes maior se dá às
custas da redução no próprio meio de sobrevivência. A pesca predatória está
diminuindo a quantidade de lagosta, encarecendo o produto e comprometendo as
famílias de pescadores legais e ilegais.
A outra modalidade de pesca é com marambaia, como são chamadas as estrutura
metálicas (geralmente botijões de óleo esvaziados) que os pescadores jogam no
mar para servir de habitat para a espécie. Os equipamentos poluem o meio
ambiente, afetando diretamente as lagostas e outras espécies marinhas.
No ano passado, o Ibama apreendeu 12 barcos pescando com compressores de ar,
260 mil metros de rede caçoeira (proibida pela legislação) e quatro toneladas e
meia de lagosta pescada ilegalmente. Foram apreendidos neste ano seis barcos,
quatro deles com compressores de botijão de gás.
De acordo com o chefe da Fiscalização do Ibama, Rolfran Castro, o comércio
ilegal da lagosta também tem sido investigado, no Interior e na Capital. O
Ibama e a Companhia dos Portos estão apurando a procedência da lagosta que
chega no Porto do Pecém para exportação.
Apreensão
12 barcos foram apreendidos pelo Ibama no ano passado por estarem praticando a
pesca com compressores de ar. Neste ano, já foram mais seis embarcações
Mais informações:
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama)
Fortaleza (CE)
Telefone: (85) 3307.1169
MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER
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