Há 216 anos, Portugal assinava Carta Régia que decretava
a emancipação administrativa do Ceará, até então subordinado a Pernambuco. A
data passa a ser comemorada quando foi instituído o Dia do Ceará, em 2004
Foi Maria, a que anos
depois ganhou nome de louca, quem decidiu, à revelia do que queria a capitania
de Pernambuco: após 143 anos de subordinação, em 1799, o Ceará, emancipava-se.
Pernambuco, que perdeu, em uma Carta Régia só, os territórios que hoje são o
Ceará e a Paraíba, estava em baixa, com o ciclo da cana-de-açúcar mal das
pernas. Com o algodão sendo vendido até para Inglaterra, quem estava por cima
da carne seca era o Ceará. O decreto da rainha, feito em um 17 de janeiro como
hoje, 216 anos atrás, pretendia que o controle português das negociações com o
Ceará não tivesse intermediários.
Em 2004, a lei estadual
determinou que hoje fosse comemorado o Dia do Ceará, e durante todo o dia há
programação em Fortaleza e em Aquiraz, a
primeira capital do Estado. “A data marca a emancipação administrativa do
território de Pernambuco, mas o processo de construção do que é o Ceará e o
cearense permanece acontecendo”, explica Airton de Farias, professor e
historiador.
O Ceará, como conhecemos
hoje, não se criou com o decreto. “Ele foi desenvolvendo-se a partir do
fortalecimento do forte do Ceará, em torno do rio Ceará, que onde hoje é
Fortaleza. Tanto que é difícil precisar em que momento o Ceará ganha esse
nome”, comenta o historiador. Airton relembra, para exemplificar a hegemonia da
região onde hoje é Fortaleza, um costume próprio de pessoas do interior do
Estado que, quando vinham para a Capital, diziam: “Eu vou para o Ceará”.
Até então, existiam no
Ceará figuras administrativas como o capitão-mor e os ouvidores, que tinham de
responder administrativamente ao governador da capitania de Pernambuco. E não
eram incomuns os desmandos atribuídos aos capitães-mor que aconteciam pela
distância do controle pernambucano.
Com a emancipação, a
capitania passa a ter o governador próprio. O algodão, que antes era obrigado a
passar por Pernambuco - aumentando o frete, o tempo de distribuição e os
impostos embutidos -, poderia ser diretamente repassado para Portugal.
“Mas a capitania ainda
permanece, seja pelo costume ou pela inexistência de uma estrutura de porto
para escoamento, muito ligada a Pernambuco”, destaca Airton, apontando a
Revolução de 1817 e a Confederação do Equador, revoltas comandadas pela colônia
vizinha que tiveram participação do Ceará. Airton cita ainda a Região do Cariri
que, pela proximidade territorial e os vínculos familiares, até hoje ainda
mantém ligações com Recife.
Cearensidade
“A construção da ideia
de Ceará e do cearense se dá mais fortemente no Segundo Reinado (1840-1889),
quando são estudados a linguagem, a música, a literatura, a cultura”, explica
Airton. Da emancipação para a vaia, o baião de dois, o sertanejo honesto e
forte e o humor muito peculiar foi preciso ainda um longo caminho.
Serviço
Dia do Ceará
Theatro José de Alencar
(Rua Liberato Barroso,
525, Centro)
15h - Visita guiada ao Theatro José de Alencar, sob a condução
de Hugo Bianchi
18h - Hora do Angelus com tenor Franklin Dantas interpretando
“Ave Maria”
18h30min - Sarau do TJA homenageando Guilherme Neto e
Mário Gomes - com Ricardo Guilherme e convidados
Museu do Ceará
(Rua São Paulo, 51,
Centro)
9h às 17h - Exposição: “Impressões do Sertão Cearense” -
Xilógrafo João Pedro do Juazeiro
Sobrado Dr. José Lourenço
(Rua Major Facundo, 154,
Centro)
10h - Debate com fotógrafos da mostra “Entre o Documento e a
Ficção
– Fronteiras da
Fotografia”
13h30min às 16h - “Cineclube Sobrado” - Exibição de
curtas-metragens
Fonte: Cotidiano – Jornal O povo (17/ 01/ 15)
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