Recentemente reformado, o
Museu Brinquedim abriga o acervo do artista cearense Dim
Acima e ao lado: brinquedos em exposição; abaixo, o artista Dim Fotos: Natasha mota
Se tem uma lição que Antônio Jader Pereira dos Santos aprendeu direitinho quando criança foi a de dividir seus brinquedos. Tanto que hoje, aos 45 anos, essa ainda é a principal motivação de sua vida. E nem precisa conhecê-lo, basta dar uma ligadinha antes que ele abre as portas de casa - mais especificamente do Museu Brinquedim, onde o artista vive com sua família e mantém expostas em torno de 500 peças de seu acervo.
Se ainda não ligou o nome à pessoa, talvez o apelido ajude. "Meu pai me chamava de Jadim, e depois todo mundo abreviou para Dim", explicou certa vez o cearense, em entrevista. Nascido em Camocim e conhecido nacionalmente por seu trabalho com brinquedos artesanais, Dim mantém o Museu em funcionamento desde 2002, em um terreno de quase dois hectares no município de Pindoretama (49 km de Fortaleza).
Ainda do lado de fora, já se percebe que naquela casa há algo de diferente, graças às carinhas de bonecos enfileiradas, como a espiar por cima do muro. Na porta, o letreiro "Museu Brinquedim" confirma a impressão. Dentro, o visitante é saudado por uma trupe de grandes bonecos, com os braços no ar.
A mudança mais recente é o conjunto de rampa construídas nas entrada e na casa principal do sítio, que tornaram o equipamento acessível a cadeirantes. "Também adaptamos os banheiros. Parte dos recursos para a reforma veio do FEC - Fundo Estadual de Cultura", explica Dim. Com o dinheiro também foi construída uma biblioteca, onde o artista mantém alguns livros e brinquedos. "É um espaço para oficinas de construção de brinquedos ou de leitura, por exemplo", observa.
Acima e ao lado: brinquedos em exposição; abaixo, o artista Dim Fotos: Natasha mota
Se tem uma lição que Antônio Jader Pereira dos Santos aprendeu direitinho quando criança foi a de dividir seus brinquedos. Tanto que hoje, aos 45 anos, essa ainda é a principal motivação de sua vida. E nem precisa conhecê-lo, basta dar uma ligadinha antes que ele abre as portas de casa - mais especificamente do Museu Brinquedim, onde o artista vive com sua família e mantém expostas em torno de 500 peças de seu acervo.
Se ainda não ligou o nome à pessoa, talvez o apelido ajude. "Meu pai me chamava de Jadim, e depois todo mundo abreviou para Dim", explicou certa vez o cearense, em entrevista. Nascido em Camocim e conhecido nacionalmente por seu trabalho com brinquedos artesanais, Dim mantém o Museu em funcionamento desde 2002, em um terreno de quase dois hectares no município de Pindoretama (49 km de Fortaleza).
Ainda do lado de fora, já se percebe que naquela casa há algo de diferente, graças às carinhas de bonecos enfileiradas, como a espiar por cima do muro. Na porta, o letreiro "Museu Brinquedim" confirma a impressão. Dentro, o visitante é saudado por uma trupe de grandes bonecos, com os braços no ar.
A mudança mais recente é o conjunto de rampa construídas nas entrada e na casa principal do sítio, que tornaram o equipamento acessível a cadeirantes. "Também adaptamos os banheiros. Parte dos recursos para a reforma veio do FEC - Fundo Estadual de Cultura", explica Dim. Com o dinheiro também foi construída uma biblioteca, onde o artista mantém alguns livros e brinquedos. "É um espaço para oficinas de construção de brinquedos ou de leitura, por exemplo", observa.
Vida e
obra
Entre os visitantes frequentes do Museu do Briquedim estão alunos de escolas da região e pesquisadores, inclusive internacionais. "Há algum tempo, quando o acesso não era tão fácil, recebemos duas alemãs que vieram debaixo de chuva. Chegaram e ficaram encantadas com as peças", recorda Ângela, esposa de Dim, que também cuida do Museu. Hoje o caminho é melhor, com estrada sem buracos e boa sinalização. As visitas precisam ser agendadas por telefone.
Bastante conhecida no âmbito das artes plásticas e da cultura popular nordestina, a estética de Dim fundamenta-se na rusticidade dos materiais, na simplicidade das formas e no uso abundante de cores fortes - que acaba por balancear a equação e conferir um aspecto delicado, extremamente lúdico às peças. Há desde telas e esculturas- especialmente bonecos e animais - até brinquedos móveis, articulados por arames e movidos por manivelas ou rodas. Dim usa principalmente madeira, isopor e arame, "materiais fáceis de encontrar", frisa. A opção pela praticidade vem desde o começo da carreira do artista, que desde criança gostava de desenhar, "com barro, carvão, o que estivesse mais à mão", segundo descreveu uma vez em entrevista.
A família forneceu estímulos suficientes. A avó, por exemplo, sempre que ia às romarias voltava com um brinquedinho para o neto - um rói-rói, um pião, um carrinho, um joão teimoso.
Esse último, aliás, virou figura constante no trabalho de Dim. "É um dos que eu mais gosto, porque traz a ideia de persistência, de nunca desistir. Foi um dos primeiros brinquedos que conheci", recorda em texto no site do Museu (museubrinquedim.org.br).
Mais na frente, a surpresa foi descobrir a origem do João-Teimoso. "No dia que entrei na embaixada do Japão encontrei uma revista que estava falando do João-teimoso. Descobri, então, que ele nasceu no Japão há 1.500 anos, lá ele é um talismã, que representa um sacerdote budista chamado Daruma, que está em posição de meditação, daí não aparece as pernas. Ele representa com esse movimento de cair e levantar, a resistência", reforça no mesmo texto.
Homenagens
Ao longo dos 30 anos de carreira, Dim já morou e expôs em vários Estados do Brasil. A decisão de voltar ao Ceará veio no início dos anos 2000. "Já vim para cá com a ideia de montar o museu, de juntar minhas memórias e meus brinquedos", conta.
A opção por Pindoretama foi guiada também pela vontade de criar os filhos em um espaço tranquilo. "Aqui estou a meia hora de Fortaleza, é um espaço legal para trabalhar e para viver", justifica.
Para Dim, o Museu é um processo vivo, porque ele está sempre produzindo. Tanto que algumas peças do acervo estão à venda. Outras são elaboradas por encomenda.
Entre os passos seguintes para o Museu, Dim adianta a construção de um café e talvez a realização de programações e eventos especiais.
Por enquanto, além dos brinquedos expostos e da biblioteca, há uma espécie de playground, com versões em tamanho gigante - na forma de escorregador, de tubo, entre outras. Outro atrativo é a mata nativa preservado no sítio, com espécies aos poucos catalogadas pelo casal, entre cajueiros, mangueiras, sapotizeiros, limoeiros e outras.
Em 2009, Dim foi contemplado como Mestre da Cultura. Neste ano, ele é um dos 30 artistas homenageados pela escola de samba Acadêmicos do Cubango (RJ), no desfile cujo tema será "Teimosia da imaginação" - com direito a carro alegórico e tudo.
A lista de artistas selecionados pela escola inclui nomes como o cordelista J. Borges; o ceramista Mestre Cardoso; o artista Joca Galo (famoso por seus galos metálicos); Sivonaldo Araújo e seus papangus; o xilogravurista Derlon Almeida; o escultor de Miguel dos Santos, entre outros.
Fora a pintora Ermelinda, cearense de nascença mas que há muitos anos mora no Rio de Janeiro, Dim é o único cearense selecionado.
Mais informações
Museu Brinquedim (Estrada da Coluna, km 20, Pindoretama). Contato: (85) 8603.1667
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
Entre os visitantes frequentes do Museu do Briquedim estão alunos de escolas da região e pesquisadores, inclusive internacionais. "Há algum tempo, quando o acesso não era tão fácil, recebemos duas alemãs que vieram debaixo de chuva. Chegaram e ficaram encantadas com as peças", recorda Ângela, esposa de Dim, que também cuida do Museu. Hoje o caminho é melhor, com estrada sem buracos e boa sinalização. As visitas precisam ser agendadas por telefone.
Bastante conhecida no âmbito das artes plásticas e da cultura popular nordestina, a estética de Dim fundamenta-se na rusticidade dos materiais, na simplicidade das formas e no uso abundante de cores fortes - que acaba por balancear a equação e conferir um aspecto delicado, extremamente lúdico às peças. Há desde telas e esculturas- especialmente bonecos e animais - até brinquedos móveis, articulados por arames e movidos por manivelas ou rodas. Dim usa principalmente madeira, isopor e arame, "materiais fáceis de encontrar", frisa. A opção pela praticidade vem desde o começo da carreira do artista, que desde criança gostava de desenhar, "com barro, carvão, o que estivesse mais à mão", segundo descreveu uma vez em entrevista.
A família forneceu estímulos suficientes. A avó, por exemplo, sempre que ia às romarias voltava com um brinquedinho para o neto - um rói-rói, um pião, um carrinho, um joão teimoso.
Esse último, aliás, virou figura constante no trabalho de Dim. "É um dos que eu mais gosto, porque traz a ideia de persistência, de nunca desistir. Foi um dos primeiros brinquedos que conheci", recorda em texto no site do Museu (museubrinquedim.org.br).
Mais na frente, a surpresa foi descobrir a origem do João-Teimoso. "No dia que entrei na embaixada do Japão encontrei uma revista que estava falando do João-teimoso. Descobri, então, que ele nasceu no Japão há 1.500 anos, lá ele é um talismã, que representa um sacerdote budista chamado Daruma, que está em posição de meditação, daí não aparece as pernas. Ele representa com esse movimento de cair e levantar, a resistência", reforça no mesmo texto.
Homenagens
Ao longo dos 30 anos de carreira, Dim já morou e expôs em vários Estados do Brasil. A decisão de voltar ao Ceará veio no início dos anos 2000. "Já vim para cá com a ideia de montar o museu, de juntar minhas memórias e meus brinquedos", conta.
A opção por Pindoretama foi guiada também pela vontade de criar os filhos em um espaço tranquilo. "Aqui estou a meia hora de Fortaleza, é um espaço legal para trabalhar e para viver", justifica.
Para Dim, o Museu é um processo vivo, porque ele está sempre produzindo. Tanto que algumas peças do acervo estão à venda. Outras são elaboradas por encomenda.
Entre os passos seguintes para o Museu, Dim adianta a construção de um café e talvez a realização de programações e eventos especiais.
Por enquanto, além dos brinquedos expostos e da biblioteca, há uma espécie de playground, com versões em tamanho gigante - na forma de escorregador, de tubo, entre outras. Outro atrativo é a mata nativa preservado no sítio, com espécies aos poucos catalogadas pelo casal, entre cajueiros, mangueiras, sapotizeiros, limoeiros e outras.
Em 2009, Dim foi contemplado como Mestre da Cultura. Neste ano, ele é um dos 30 artistas homenageados pela escola de samba Acadêmicos do Cubango (RJ), no desfile cujo tema será "Teimosia da imaginação" - com direito a carro alegórico e tudo.
A lista de artistas selecionados pela escola inclui nomes como o cordelista J. Borges; o ceramista Mestre Cardoso; o artista Joca Galo (famoso por seus galos metálicos); Sivonaldo Araújo e seus papangus; o xilogravurista Derlon Almeida; o escultor de Miguel dos Santos, entre outros.
Fora a pintora Ermelinda, cearense de nascença mas que há muitos anos mora no Rio de Janeiro, Dim é o único cearense selecionado.
Mais informações
Museu Brinquedim (Estrada da Coluna, km 20, Pindoretama). Contato: (85) 8603.1667
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
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