sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Uma pequena notável


Enviado a Ricardo Costa (Por e-mail) pelo amigo Daniel Valério Martins (Coordenador do Programa do Mestrado de Antropologia da Universidade de Salamanca – Espanha)

No Brasil colonial, a base de sustentação do poder era a aristocracia rural e patriarcal, na qual o homem era o principal elemento: o chefe, líder, patriarca – espelho de uma Europa medieval. Mas, hoje em dia, esse exemplo de sociedade patriarcal está mudando de figura, pois a mulher vem ganhando cada vez mais voz ativa nas sociedades, até mesmo nas comunidades de minorias étnicas do Brasil e do mundo.

Conforme um estudo de Eduardo Punset, em uma comunidade indígena norte-americana, as quais os espanhóis chamaram de Navajos e Lakotas, tal autor viu que essas tribos já trabalhavam elementos que somente há pouco tempo a ciência vem comprovar:

Ahora bien, la sorpresa viene de haber comprobado hace muy poco tiempo que la especie humana es la única conocida en la que el macho mayor conserva a lo largo de toda su vida un nivel de infantilismo mucho mayor que el de la hembra. Los machos nunca dejan del todo la niñez, como muestran sus comportamientos, sus juegos y sus pasatiempos, mientras que las hembras se olvidan fácilmente de la infancia. (Punset, 201:63).

Punset (2011), em conversa com os representantes das tribos, percebe que estas estavam se tornando sociedades matriarcais, pois os homens, de certa maneira, sempre conservam a “mentalidade dos doze anos de idade”, já as mulheres possuem mais maturidade. Acredita-se, no presente trabalho, que é justamente esse fato o pode explicar o que vem ocorrendo na sociedade brasileira.

No Brasil, essa realidade vem à tona, não somente na Presidência da República, dado que, como vale ressaltar, é a primeira vez que uma mulher (Dilma Roussef) chega a tal cargo no Brasil; mas também nas pequenas comunidades de minorias étnicas, pois cerca de nove comunidades indígenas do Brasil tem à frente mulheres no Cacicado. Veja-se o trecho de um artigo jornalístico que aborda a liderança feminina:

No início do século XVII, viveu a índia Iracema, os lábios de mel. A sacerdotisa que guardava os segredos da porção da Jurema e que deveria ser casta por toda vida. Lenda cearense e metáfora de criação do Estado, lançada por José de Alencar há 140 anos, ela pode ser atualizada nas índias que, hoje, lutam para sobreviver (…) em meio a casebres(…) resistindo às investidas das grandes empresas que circundam a área indígena.(Diário do Nordeste, 06/03/2005. Não paginado).

Através dessa pesquisa, se teve a oportunidade de conhecer a primeira Cacique nomeada do Brasil; a Cacique Pequena, que possui uma administração incontestável e méritos pessoais que a evidenciam na comunidade e em todo o país.

Sempre que possível, está presente nos eventos públicos, disposta a solicitar ajuda política nas burocracias do estado. Vale ressaltar que em 2004 foi eleita “por voto” a cacique Creuza na Aldeia Umutina, instalada no município Barra do Bugre, no Estado do Mato Grosso, como outro exemplo de mulher cacique em tribos indígenas brasileiras, enfatizando-se também o uso de eleição para o cacicado. Sem embargo, a primeira mulher nomeada Cacique em uma comunidade, foi Maria de Lourdes da Conceição Alves – a “Cacique Pequena” – em 1995.

Maria da Conceição, mãe de 16 filhos, dos quais 14 vivem na reserva, possui uma grande e numerosa família, levando em conta os mais de 50 netos e assim somando com genros, sobrinhos, primos, todos da comunidade possuem de certa forma uma relação de parentesco, e veem na figura da Cacique pequena, não somente uma líder, mas sim uma grande mãe.

Quem tem a oportunidade de conhecer a Cacique Pequena, pode enxergar claramente que naquela singela estatura, está uma grande mulher e exímia líder, pois com seu carisma e sua sabedoria empírica, vem conquistando vários benefícios em prol de sua comunidade, e entre eles, podemos destacar: ônibus escolar, posto de saúde, uma escola indígena diferenciada, gado leiteiro, um galpão para manufaturas artesanais, casa de farinha etc.

Também foi criado no ano de 2010 um museu, assim como o dos Ticuna, contando um pouco sobre a história da comunidade Jenipapo-Kanindé, além de também ter sido construída a Pousada do Índio, a qual conta com uma mão-de-obra especializada formada pela própria comunidade, tornando-se mais uma fonte de renda que visa ao turismo local como um de seus aspectos positivos.

Em abril de 2012, durante a semana do índio, a comunidade recebeu a visita do Programa Mais Educação, coordenado pelo professor Ricardo Costa que foi aluno do autor do presente artigo e atual informante sobre os avanços e desenvolvimento obtidos pela etnia com os projetos educacionais.


DANIEL VALÉRIO MARTINS

Coordenador do Programa do Mestrado de Antropologia da Universidade de Salamanca
Doutorando no Programa de Estudos Latino americanos da Universidade de Salamanca 

Um comentário:

  1. Tive a oportunidade de visitar a comunidade da tribo Jenipapo-Kanindé em Abril de 2012. Foi uma visita realizada pela Faculdade do Vale do Jaguaribe, onde tive a oportunidade conhecer essa mulher, que representa a alma da comunidade e uma nova visão perante as tibos.
    Uma experiência muito boa... Recomendo..

    ResponderExcluir