Enviado a Ricardo Costa (Por e-mail) pelo amigo Daniel Valério Martins (Coordenador do Programa do Mestrado de
Antropologia da Universidade de Salamanca – Espanha)
No
Brasil colonial, a base de sustentação do poder era a aristocracia rural e
patriarcal, na qual o homem era o principal elemento: o chefe, líder, patriarca
– espelho de uma Europa medieval. Mas, hoje em dia, esse exemplo de sociedade
patriarcal está mudando de figura, pois a mulher vem ganhando cada vez mais voz
ativa nas sociedades, até mesmo nas comunidades de minorias étnicas do Brasil e
do mundo.
Conforme
um estudo de Eduardo Punset, em uma comunidade indígena norte-americana, as
quais os espanhóis chamaram de Navajos e Lakotas, tal autor viu que essas
tribos já trabalhavam elementos que somente há pouco tempo a ciência vem
comprovar:
Ahora bien, la sorpresa viene de haber
comprobado hace muy poco tiempo que la especie humana es la única conocida en
la que el macho mayor conserva a lo largo de toda su vida un nivel de
infantilismo mucho mayor que el de la hembra. Los machos nunca dejan del todo
la niñez, como muestran sus comportamientos, sus juegos y sus pasatiempos,
mientras que las hembras se olvidan fácilmente de la infancia. (Punset,
201:63).
Punset
(2011), em conversa com os representantes das tribos, percebe que estas estavam
se tornando sociedades matriarcais, pois os homens, de certa maneira, sempre
conservam a “mentalidade dos doze anos de idade”, já as mulheres possuem mais
maturidade. Acredita-se, no presente trabalho, que é justamente esse fato o
pode explicar o que vem ocorrendo na sociedade brasileira.
No
Brasil, essa realidade vem à tona, não somente na Presidência da República,
dado que, como vale ressaltar, é a primeira vez que uma mulher (Dilma Roussef)
chega a tal cargo no Brasil; mas também nas pequenas comunidades de minorias
étnicas, pois cerca de nove comunidades indígenas do Brasil tem à frente
mulheres no Cacicado. Veja-se o trecho de um artigo jornalístico que aborda a
liderança feminina:
No
início do século XVII, viveu a índia Iracema, os lábios de mel. A sacerdotisa
que guardava os segredos da porção da Jurema e que deveria ser casta por toda
vida. Lenda cearense e metáfora de criação do Estado, lançada por José de
Alencar há 140 anos, ela pode ser atualizada nas índias que, hoje, lutam para
sobreviver (…) em meio a casebres(…) resistindo às investidas das grandes
empresas que circundam a área indígena.(Diário do Nordeste, 06/03/2005. Não
paginado).
Através
dessa pesquisa, se teve a oportunidade de conhecer a primeira Cacique nomeada
do Brasil; a Cacique Pequena, que possui uma administração incontestável e
méritos pessoais que a evidenciam na comunidade e em todo o país.
Sempre
que possível, está presente nos eventos públicos, disposta a solicitar ajuda
política nas burocracias do estado. Vale ressaltar que em 2004 foi eleita “por
voto” a cacique Creuza na Aldeia Umutina, instalada no município Barra do
Bugre, no Estado do Mato Grosso, como outro exemplo de mulher cacique em tribos
indígenas brasileiras, enfatizando-se também o uso de eleição para o cacicado.
Sem embargo, a primeira mulher nomeada Cacique em uma comunidade, foi Maria de
Lourdes da Conceição Alves – a “Cacique Pequena” – em 1995.
Maria
da Conceição, mãe de 16 filhos, dos quais 14 vivem na reserva, possui uma
grande e numerosa família, levando em conta os mais de 50 netos e assim somando
com genros, sobrinhos, primos, todos da comunidade possuem de certa forma uma
relação de parentesco, e veem na figura da Cacique pequena, não somente uma
líder, mas sim uma grande mãe.
Quem
tem a oportunidade de conhecer a Cacique Pequena, pode enxergar claramente que
naquela singela estatura, está uma grande mulher e exímia líder, pois com seu
carisma e sua sabedoria empírica, vem conquistando vários benefícios em prol de
sua comunidade, e entre eles, podemos destacar: ônibus escolar, posto de saúde,
uma escola indígena diferenciada, gado leiteiro, um galpão para manufaturas
artesanais, casa de farinha etc.
Também
foi criado no ano de 2010 um museu, assim como o dos Ticuna, contando um pouco
sobre a história da comunidade Jenipapo-Kanindé, além de também ter sido
construída a Pousada do Índio, a qual conta com uma mão-de-obra especializada
formada pela própria comunidade, tornando-se mais uma fonte de renda que visa
ao turismo local como um de seus aspectos positivos.
Em
abril de 2012, durante a semana do índio, a comunidade recebeu a visita do
Programa Mais Educação, coordenado pelo professor Ricardo Costa que foi aluno
do autor do presente artigo e atual informante sobre os avanços e
desenvolvimento obtidos pela etnia com os projetos educacionais.
DANIEL VALÉRIO MARTINS
Coordenador
do Programa do Mestrado de Antropologia da Universidade de Salamanca
Doutorando
no Programa de Estudos Latino americanos da Universidade de Salamanca
Tive a oportunidade de visitar a comunidade da tribo Jenipapo-Kanindé em Abril de 2012. Foi uma visita realizada pela Faculdade do Vale do Jaguaribe, onde tive a oportunidade conhecer essa mulher, que representa a alma da comunidade e uma nova visão perante as tibos.
ResponderExcluirUma experiência muito boa... Recomendo..