quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Atenção Litoral Leste (III): Uma mudança na vida da Caatinga

Oficialmente, o projeto de Conservação e Gestão Sustentável da Caatinga nos Estados da Bahia e Ceará (Projeto Mata Branca) chega ao fim com números positivos e diversos trabalhos realizados em sete municípios cearenses inseridos no ecossistema. Na última terça-feira (01), foram apresentados os resultados dos seis anos de implementação do plano que preservou, conservou e geriu, de forma sustentável, o bioma, exclusivamente, brasileiro e capacitou 1.760 pessoas apenas no Ceará.
O Centro de Treinamento do Banco do Nordeste (BNB Passaré) foi o local escolhido para reunir investidores, representantes governamentais, gestores públicos e beneficiários do Mata Branca. Todos certos de que o projeto foi um sucesso e que não deve parar. Muitos representantes de comunidades beneficiadas chegaram a garantir que sem o projeto muitos não teriam o que comer hoje. O secretário de Meio Ambiente do município de Novo Oriente, Enoch Coutinho, revelou que, inclusive, o Mata Branca trouxe excelentes resultados na questão ambiental.
Segundo ele, na região, nove comunidades foram agraciadas e os projetos mais bem sucedidos foram o Aduba Sertão, onde os agricultores aprenderam a utilizar esterco animal para recuperar áreas degradas para a plantação de milho e feijão e os voltados para o reflorestamento da Caatinga. As quatro principais áreas de atuação do Mata Branca foram: Manejo Florestal, Manejo e Recuperação de Solo e Água, Projetos Alternativos de Renda e Empoderamento Cultural e Social das Regiões do Inhamuns e Sertão Central.
“Todos sabem que a Caatinga é muito castigada pelos desmatamentos e queimadas. Algumas áreas degradadas foram recompostas como plantio de espécies nativas e frutíferas, como uma forma de agroflorestal”, ressaltou. A Apicultura também foi outra cultura que cresceu e se desenvolveu na região, através do Mata Branca. O secretário explicou que os apicultores criaram meios de evitar as queimadas devido o crescimento da produção de mel na localidade.
Apesar dos dois anos de seca, Enoch salientou que muitas famílias estão conseguindo tirar sustento por meio dos projetos implantados em Novo Oriente. Segundo ele, em 2011, o município foi o maior produtor de mel do Estado.
As mandalas [sistema de produção sustentável de alimentos que adota plantio circular], e nas quais são construídos tanques para o cultivo de hortaliças e peixes, também têm sido “o grande ganha pão” dos agricultores locais.
“Outro projeto importante foi a questão dos resíduos sólidos. Uma das sedes do nosso município foi agraciada com um centro de triagem de lixo, onde foi adquirido uma prensa hidráulica e, ainda este mês estaremos implantado a cultura da coleta seletiva em Novo Oriente, através do projeto Mata Branca. Todos estes projetos foram de fundamental importância e aqueles que acreditaram no Mata Branca, hoje, estão vendo os resultados”.

100 FAMÍLIAS

Conhecer técnicas para conviver com a Caatinga foi um dos grandes alicerces do Mata Branca. Na comunidade quilombola de Minador, no entorno de Novo Oriente, as táticas foram absorvidas e executadas na terra antes mal utilizada. O agricultor Pedro Alves de Sales revelou que o projeto mudou a vida de mais de 100 famílias da região, principalmente, das donas de casa. Isso porque, as casas da comunidade foram equipadas com 30 fogões Ecoeficientes.
“Muitas mães perguntaram por que estes fogões não vieram antes. Porque os equipamentos trazem mais economia e as famílias gostaram muito. Acredito que mesmo com o término do Mata Branca vamos fazer o possível e o impossível para darmos andamento ao projeto da maneira como nos foi repassado. Mas esperamos que futuramente ele [o projeto] volte”.
Os índios também tiveram participação efetiva no Mata Branca. A comunidade de Fidelis, em Quiterionópolis, recebeu o projeto em forma de ações que desenvolveram o cultivo de frutas e uma casa para a produção do que foi colhido. Segundo a presidente do Conselho Indígena, Antônia Ferreira Silva, antes nenhum tipo de programa social chegava à comunidade e os recursos de apoio eram difíceis de serem captados. Agora, os índios da região já possuem diversas ferramentas sustentáveis que servem para dar mais conforto e meio de sustento aos índios.
“O Mata Branca foi o primeiro que chegou até nós. A comunidade ficou muito contente com o projeto e agora já estamos com um ponto de cultura, que foi um avanço para nossa comunidade. Também recebemos capacitações que nos ajudaram a conviver me-lhor com a Caatinga”.

EM NEGOCIAÇÃO

A gerente do Mata Branca pelo Banco Mundial, Bernadete Lange, revelou que neste momento a instituição ainda não vislumbra financiar outros projetos deste tipo no País. Entretanto, a gerente ressaltou que o governo brasileiro está negociando com fundos internacionais para definir como serão aplicadas as próximas rodadas de planejamento.
Em contra partida, Lange salientou que o Banco Mundial está de portas abertas para aberturas de créditos para financiar a continuidade do Mata Branca, através do Fundo Mundial para o Meio Ambiente. Apesar de não tratar-se de uma decisão do Banco, o Governo Federal tem condições de solicitar o apoio de doações com os estados, utilizando a instituição como um catalizador de recursos.
“Neste momento ainda não existe um valor estipulado. Está acontecendo um processo de discussão então as etapas seriam os governos estaduais entrarem em contato com o Federal para ver as possibilidades e futuramente entrar em contato com o Banco para saber se é possível a instituição entrar como ponte neste processo”.

“FOI UM PRAZER”

O presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), Bruno Sarmento, empossado há cerca de 15 dias no cargo, explicou que foi um prazer assumir o órgão e bater de frente com um projeto como este. Ele ressaltou que o Mata Branca foi um ciclo sustentável que vai derivar vários outros projetos menores, com o objetivo de dar continuidade a ação ecológica.
Para ele, as mandalas foram os grandes destaques do projeto e que desenvolveu a produção vegetal em uma região em que a agricultura não era tão demandada. “Inclusive, a avaliação que fazemos é para detectar quais projetos se identificaram mais com cada região e daí desenvolver outras ações. São circos que vai desde o tratamento da terra, alimentação, coleta seletiva e tratamento da terra. Fechamos um ciclo ecológico”.

BAHIA TAMBÉM SE SURPREENDEU

Na Bahia, assim como no Ceará, os resultados foram surpreendentes. Isso foi o que salientou o coordenador do Mata Branca na Bahia, Cássio Biscarbe, revelando que o projeto piloto forneceu experiências positivas na área das atividades de convivência com o semiárido. Mesmo possuindo uma extensão territorial maior que a cearense, o coordenador relatou que o Estado não teve qualquer dificuldade quanto a isso, já que a Bahia adotou uma metodologia diferente do seu parceiro no projeto.
“Lá [Bahia] atuamos prioritariamente em quatro municípios e criamos núcleos de gerenciamento locais, fazendo interlocuções com as comunidades e o escritório em Salvador. A estiagem foi um grande problema que enfrentamos. Temos barragens subterrâneos que construímos há três anos e ainda não temos uma gota de água. Isso dificultou o trabalho, mas os resultados apareceram e vamos ainda vai surtir mais benefícios pela frente”.

PRINCIPAIS RESULTADOS: MATA BRANCA

Conforme o caderno O estado Verde (OeV) publicou na edição do dia 01 de setembro os coordenadores e responsáveis pelo Mata Branca divulgaram os resultados dos três componentes do projeto, no Ceará: o apoio a instituições e políticas públicas para gestão integrada; a promoção de práticas da gestão integrada dos ecossistemas e o monitoramento e a avaliação das atividades desenvolvidas.
- 72 projetos desenvolvidos em Tauá, Crateús, Independência, Novo Oriente, Parambu, Catarina, Aiuaba e Quiterianópolis;
- 226 comunidades e 2.113 famílias atendidas;
- 1.760 pessoas capacitadas, em 68 municípios do Sertão Central e dos Inhamuns;
- US$ 23 milhões investidos pelo BID, entre eles US$ 13 mi em contrapartida dos Estados em serviços e US$ 10 mi em valor financeiro, sendo 50% para cada Estado, no período de 2007 a 2013.
ERRATA

Diferentemente do que foi publicado na edição do dia 01/10 no caderno O estado Verde, o valor empregado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) e Banco Mundial (Bird) foi de US$ 23 milhões, e não US$ 46 conforme publicado.


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