quinta-feira, 16 de abril de 2015

Aracati: Chico Diaz: tempo de cinema

O ator estreia, este ano, quatro filmes e fala sobre projetos, como o longa gravado no Ceará e de desafios da TV
Chico Diaz, em dois momentos: no longa-metragem "Os Pobres Diabos",(acima), de Rosemberg Cariry; e a produção internacional "El Ardor",(abaixo) que conta com o ator mexicano Gael García Bernal


Fazer cinema no Brasil não é fácil. Em produções que fogem à curva do apelo popular, as barreiras são ainda mais difíceis de transpor. Para o ator Chico Diaz, mais conhecido do grande público por suas atuações em telenovelas da Rede Globo, é justamente o cinema que vem consumindo seu tempo e paixão. Está menos assíduo na TV, onde gravou sua última participação em 2012. Em compensação, somente este ano, estreia quatro longas-metragens, dois deles como protagonista; participa de gravações de outros três; e trabalhar em seus próprios projetos.


Em entrevista ao Caderno 3, Chico Diaz fala dos desafios de se fazer cinema - também de experiências em produções recentes, como o longa-metragem "Os Pobres Diabos", obra ainda inédita, rodada em Aracati, pelo cineasta cearense Rosemberg Cariry.


"Existe, hoje, no Brasil uma variedade enorme de formas de apresentação dos temas, seja pelas diferentes gerações de diretores, de diferentes regiões, como diferentes propostas de linguagem. Isso é muito bom", avalia, falando do atual momento cinematográfico do País.


A decisão de privilegiar o cinema, reforça, vem parte de uma predileção pessoal, mas também de sua própria formação como ator. Chico estreou no cinema em 1982 e acumula, desde então, uma lista extensa de atuações. Aos 56 anos, o brasileiro nascido na Cidade do México - Chico mora no Brasil desde os 10 anos de idade - já atuou em cerca de 50 filmes, além de 30 séries e telenovelas.


Em 2015, o ator está comprometido com as gravações de três longas-metragens: "Fronteras, em nome da lei", de Sergio Rezende, que começou a ser gravado no fim do mês passado; "O Último Animal", de Leonel Vieira, que será rodado no Rio de Janeiro; e "Montanha Russa", filme de Vinicius Reis.


Chico Diaz se prepara ainda para gravar "Hector, Muitas Vidas de um Ator", produção sua, em que assina roteiro e a codireção; e a versão cinematográfica do espetáculo teatral "A Lua vem da Ásia", um sucesso dos palcos, estrelado por ele, do qual vai assinar a adaptação para o cinema e, mais uma vez, a codireção. "Também conto com uma boa dose de sorte, pois tenho encontrado fortes argumentos e roteiros, onde posso apresentar diferentes e instigantes geografias do homem brasileiro", justifica.


O ator colhe ainda os frutos dos sucessos de duas produções internacionais: "El ardor", filme de Pablo Fendrick, em que contracenou com o mexicano Gael García, e que foi selecionado para o Festival de Cannes de 2014; e de "Words with God", de Hector Babenco, que participou do Festival de Veneza.


Ainda que distante, momentaneamente, das telenovelas, Chico se diz otimista também com o atual momento da teledramaturgia brasileira. O ator é crítico à produção recente, "que parece que é o da publicidade e não o da dramaturgia", mas se diz otimista com o momento de transformação geral pela qual ela passa.


"A meu ver estamos em um momento fértil pois é um momento de crise. Existe a busca desesperada por essa linguagem das séries, de menor duração, com universos e personagens mais nítidos e estórias mais ousadas, mas que exige a escrita apropriada para elas. Acho que nunca vi tanta discussão sobre escrita dramática como agora", pontua.


Ceará

De sua recente passagem pelo Ceará, para a gravação de "Os Pobres Diabos", comandada por Rosemberg Cariry, Chico Diaz destaca o "instigante processo" de se fazer cinema do diretor cearense. O ator já havia protagonizado dois outros filmes de Rosemberg, "Corisco & Dadá" (1996) e "Lua Cambará - Nas escadarias do palácio" (2002). No novo filme, ele atuou ao lado de profissionais reais do circo - que dá o mote da história - e de figuras como Gero Camilo, Everaldo Pontes, da atriz Sílvia Buarque, sua esposa, e de sua própria filha, Irene Diaz. "Apesar de haver um roteiro guia, íamos construindo a relação dia a dia, nas improvisações e na interação entre os distintos artistas, assim como a interação do grupo com as possibilidades cinematográficas", conta.


A criação da cena, lembra, acontecia no dia a dia, no convívio com a equipe e com o lugar. "Havia também, para o ator, um espectro amplo, pois cada um tinha seu personagem, que vivia diferentes personagens dentro da trama do circo, entre os números apresentados", argumenta.


Sobre Rosemberg, Chico diz admirar sua paixão "pelo povo das artes, pelas famílias possíveis que se formam pela e para a arte".
"Poder trabalhar com genuínos artistas circenses e aprender com eles foi uma experiência única e o filme mesmo falava sobre isso. Diante de um mundo de mercado voraz, como, a beira dele, apresentar a beleza de um salto mortal do trapézio ou da cambalhota do palhaço ou da efêmera risada da plateia", registra.


Fábio Marques
Repórter



Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (16/ 04/ 15)


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