domingo, 15 de fevereiro de 2015

Pindoretama: Indústrias cearenses reutilizam até 80%

Além dos benefícios ambientais, a prática representa redução de custos para as empresas
Com menos de 20% da capacidade em seus reservatórios de água, o Ceará precisa economizar. O Governo já anunciou que fará campanha para reduzir o consumo em Fortaleza e evitar o racionamento. Já entre as indústrias – para onde vão 13,5% da água bruta consumida no Ceará – consumo sustentável e reúso são práticas comuns. Além de preocupação ambiental e com a própria imagem, a prática significa economia.


Nas fábricas têxteis e de bebidas, mais de 80% da água é reutilizada em outros processos, de acordo com o gerente do Núcleo de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Renato Aragão. Ele explicou que no setor de sucos, por exemplo, a mesma água utilizada para lavar as frutas pode ser reutilizada nos processos de resfriamento. No segmento têxtil, a lavagem dos tecidos e o tingimento podem ser com a mesma água. A Construção Civil é outro segmento que tem investido no reúso.

“As indústrias nordestinas são mais sustentáveis. Convivemos com a seca há muitos anos. Todas as indústrias do Nordeste conseguem ter um desempenho melhor de água que no Sudeste”, arriscou o Diretor da Suco Jandaia, Eduardo Figueiredo.


Apostando em tecnologias para tratamento e reúso, a Sucos Jandaia conseguiu reduzir em um terço o consumo de água na comparação com 2011. Naquele ano, eram necessários em média 4,5 litros de água para a produção de 1 litro de suco. Hoje, a proporção caiu para 3,1 litros. “A água sempre foi um recurso muito importante para a agroindústria. Sem água não há matéria-prima. É preciso muita atenção para o uso inteligente e reuso desse recurso”, ressaltou Figueiredo.


Ele explicou que toda a água que cai da chuva no parque industrial é captada por cisternas especiais e aproveitada em banheiros e irrigação do jardim, além de ir para as estações de tratamento. A água mais nobre e mais pura é destinada ao processo de preparação do produto e higienização das máquinas.


 No ano passado, a empresa investiu R$ 300 mil em melhorias da utilização do rejeito de osmose. O coordenador ambiental da Suco Jandaia, Wladson Lima, explicou que a água retirada do açude é tratada e parte era descartada sob a forma de rejeito. Com a nova tecnologia, é preciso reaproveitar a água na irrigação do jardim e na limpeza em geral. De acordo com ele, o consumo médio mensal da empresa é de 10 milhões de litros de água. Do total, 2,9 milhões vem de chuva, rejeito de osmose e aparelhos de ar condicionado.


O Grupo Telles possui duas formas de reúso de água: o circuito fechado e o reuso parcial, de acordo com a diretora do grupo, Aline Telles Chaves. “Podemos dizer que a economia nas usinas chega a cerca de 100%. Por se tratar de uma agroindústria, a sobra do processo é utilizada para irrigar os canaviais”, ressaltou. Aline disse ainda que, na fábrica de papel/papelão, a economia é em torno de 60%.

Nas destilarias das usinas, os condensadores (que fazem o vapor alcoólico voltar ao estado líquido por troca de temperatura, sem entrar em contato direto com o produto), são direcionados para um tanque. A água é transportada por moto-bombas para uma torre de refrigeração e retorna aos condensadores.


Já na fábrica de papel/papelão, em Pindoretama, o circuito é fechado parcialmente. A água utilizada no processo dilui a massa de papel para que haja boa desagregação. Parte da água é reaproveitada.


Sustentabilidade

Muitas são as formas de reutilizar e reaproveitar o que os espaços já oferecem previamente. O arquiteto e paisagista Ney Filho diz sempre utilizar reuso em suas criações. “Para mim é muito interessante visualizar o espaço e tirar o potencial dele. Começar do zero não me agrada. Anula a história do lugar e gasta mais energia, mais materiais e sai mais caro. O que move meu trabalho é o reuso, a sustentabilidade”, conta.


Na Casa Cor 2014, ele criou uma praça sustentável com uma fonte que utilizava a água da chuva e uma bomba que fazia a água circular. Ele destacou que é necessário estar atento à saúde e à manutenção dos espelhos d’água para evitar o risco de dengue.
A sustentabilidade nas construções é um conceito cada vez mais utilizado. Sistemas de reúso, torneiras com temporizador e utilização da água das chuvas são algumas possibilidades. Os edifícios sustentáveis ainda não são comuns no Ceará. No entanto, o conceito começa a se popularizar em alguns usos específicos, como a irrigação de jardins.


Na construção dos edifícios também é possível economizar água, de acordo com o presidente do Sinduscon, André Montenegro. O conceito de “obra enxuta” é utilizado para definir os edifícios pré-fabricados que utilizam aço e pré-moldados. “Tem construção que não utiliza nada de água; são pré-fabricadas. Ao invés de fechar uma parede com tijolo, utiliza gesso”.


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Litros de água são necessários para lavar um prato no qual foi servido uma comida oriental. O volume é necessário para evitar que cheiros e sabores passem para a refeição do próximo cliente

COMO FUNCIONA


Destilarias do Grupo Telles

O circuito fechado é caracterizado pela reutilização total da água no processo industrial. Como exemplo, nas destilarias das usinas do Grupo Telles, a água utilizada nos condensadores (que fazem o vapor alcoólico voltar ao estado líquido), é direcionado para um tanque. A água é transportada por bombas para uma torre de refrigeração e retorna aos condensadores fazendo um circuito contínuo e fechado. Já o sistema de reuso parcial é caracterizado pela utilização da água pelo menos em dois processos, ou quando retorna e é reaproveitada em parte no mesmo processo.



Fábrica de papel/papelão


O circuito da fábrica de papel/papelão é fechado parcialmente. A água utilizada dilui a massa de papel. Com a continuidade do processo, a água será retirada em grande parte para que haja a formação do papel-produto final. A água retirada é reutilizada continuamente e parcialmente, pois o processo requer a entrada de água limpa. Assim, parte da água de reúso sobra, indo para uma lagoa de estabilização. De lá, é bombeada para irrigação dos canaviais.




Fonte: Dom. – Jornal O povo (15/02/ 15)

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