quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mais da metade da população da Capital está acima do peso

Entre 2006 e 2013, o crescimento de pessoas acima do peso foi de 20,7% em Fortaleza, diz Ministério da Saúde


Como está a alimentação do fortalezense? Com a desculpa de que falta tempo para ter uma alimentação saudável, muitos adultos acabam comendo na rua, de qualquer jeito. Prova disso são os dados da Pesquisa Vigitel 2013 - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico -, realizada pelo Ministério da Saúde, que apontam que mais da metade da população (51,3%) está acima do peso e 18,1% é obesa. Média acima da nacional, que registrou 50,8% e 17,5%, respectivamente.

Em sete anos, o crescimento de pessoas acima do peso em Fortaleza foi de 20,7%. Eram 42,5% em 2006, saltando para 51,3% no ano passado. Entre os que estão com excesso de peso, os homens predominam, com 54,2%. Já as mulheres representam 48,8%. Considerando as capitais nordestinas, Fortaleza aparece em terceiro lugar. Liderando o ranking está Natal, com 52,6% da população com excesso de peso. Seguida de Maceió (52,5%), Fortaleza (51,3%), João Pessoa (51,3%), Recife (50,7%), Teresina (49,1%), Aracaju (49,1%), Salvador (47,1%) e São Luis (41,7%). A pesquisa ouviu em todo o País 53 mil adultos, sendo 1.977 em Fortaleza.


Depois que saiu da faculdade, a psicóloga Leila Sá, 33, começou a ganhar peso. Mas foi quando entrou no mestrado e passou a ser bolsista que se tornou obesa. Ela conta que em seis anos, passou de 70 kg para 120 kg. O auge foi aos 31 anos, quando resolveu fazer a cirurgia bariátrica. "Eu era cheinha, não obesa, mas comecei a comer demais, fazer pouca atividade física. Não me dei conta. Era estudando e comendo, estudando e comendo. Fui deixando para lá até que o peso começou a influenciar na minha saúde", relata.

Em decorrência do peso, tinha problemas de mobilidade, pouca resistência física, se sentia cansada, adoecia facilmente e passou a sentir fortes dores na coluna. "Eu mal conseguia andar, se subisse uma escada ficada cansada. Quando chegava em casa tinha dores nas costas", recorda. Há dois anos, fez a cirurgia bariátrica e passou por uma reeducação alimentar. Hoje, diz que tem outra perspectiva de vida, procura se alimentar melhor, fazer caminhadas e não come mais por gula. A sua autoestima melhorou, mas o fato de ter mais agilidade nos movimentos é o que considera mais positivo.

Diagnóstico

Apesar do grande número de doenças que estão diretamente relacionadas com a obesidade, é difícil diagnosticar as mortes em decorrência da doença. Rubem Costa, presidente da Associação dos Obesos e Ex-Obesos do Ceará, explica que a pessoa obesa tem problemas de taquicardia, mas geralmente o médico não coloca dessa maneira. Entre as patologias relacionadas com a obesidade cita a diabetes, a pressão alta e problemas cardíacos. Contudo, diz que um dos maiores males é a depressão. O fato da pessoa não se aceitar e não ser aceita pela sociedade. "Ela é desestimulada, então a depressão vem para derrubar", afirma.

Cita, ainda, dores nos ossos, na coluna, nas articulações e de circulação nas pernas. Outro problema perigoso é a apneia do sono. "Como a pessoa está gorda, as traqueias fecham e ela fica sufocada, com falta de ar por causa da gordura". Porém, o especialista alerta que a cirurgia é um meio, mas não faz milagre. Para que o resultado seja positivo, a pessoa terá que passar por uma reeducação alimentar, caso contrário voltará a ganhar peso.

Vilões

Açúcar, massa e cerveja são alguns ítens que fazem parte da má-educação alimentar de grande parte da população. No entanto, Costa destaca que o refrigerante é o grande vilão da situação. O médico recomenda que as pessoas procurem um nutricionista para serem acompanhadas. "Não precisa passar fome. O ideal é fazer seis alimentações durante o dia, mas alimentações controladas", observa.

O presidente da Associação informa que obesos mórbidos vivem, em média, dez anos a menos que pessoas que estão no peso normal, por causa das complicações relacionadas à doença. Por isso, reforça a importância de ser feita uma reeducação alimentar para evitar chegar na situação de obesidade mórbida.

Hoje, desde cedo, as crianças começam a ter uma alimentação errada. "Diferente de antigamente, quando as mães controlavam o que as crianças comiam na escola, hoje, elas lancham na cantina quase sempre refrigerante, salgado, bolo. Ela já se acostuma desde pequena com uma alimentação que não é saudável", diz.

Hipertensão arterial atinge 21,3% dos fortalezenses

A hipertensão arterial é outro fator que preocupa os órgãos de saúde. Em Fortaleza, ela atinge 21,3% da população, índice superior à 2006, quando alcançava 19,3% dos fortalezenses - aumento de 10,3%. Chama atenção ainda o representativo aumento de diagnósticos de diabetes na Capital. Em sete anos, foi registrado aumento de 53%. De acordo com a Pesquisa Vigitel, realizada pelo Ministério da Saúde, eles representavam 19,3% da população em 2006, passando para 21,3% no ano passado.

Já o número de fumantes diminuiu. Conforme a pesquisa, de 2006 para 2013, houve redução de 54% do número de fumantes em Fortaleza. Caiu de 15,7% em 2006, para 7,2% no ano passado. Os homens continuam sendo os que mais fumam. Em 2013, eles representavam 10% da população fortalezense, enquanto as mulheres 4,8%.

Prevenção

Forte aliado na prevenção de doenças, o consumo recomendado de frutas e hortaliças é de 32% na Capital. Atualmente, 36,8% das mulheres comem cinco porções por dia de frutas e hortaliças - quantidade indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) -, enquanto o consumo entre os homens é de 26,3%. Apesar dos avanços, o estudo também mostra a existência de diversos hábitos alimentares inapropriados da população.

Um deles é o índice que mostra quantos brasileiros têm o hábito de substituir o almoço ou o jantar por um lanche de baixo valor nutritivo. Consultado pela primeira vez no Vigitel, o indicador mostrou que 16,5% dos brasileiros - 12,6% dos homens e 19,7% das mulheres - costumam trocar o almoço ou jantar por lanches como pizzas, sanduíches ou salgados diariamente. Outro indicador que preocupa é o consumo excessivo de gordura saturada: 31% da população não dispensa a carne gordurosa e mais da metade (53,5%) consome leite integral regularmente. O refrigerante também têm consumidores fieis: 23,3% ingerem esta bebida, no mínimo, cinco dias por semana.

"O aumento do consumo de frutas e hortaliças é fator determinante para uma sociedade mais saudável. Porém, ainda é preciso observar a sequência nos próximos anos para podermos afirmar com consistência se há uma estabilização do crescimento da obesidade e do sobrepeso", salienta o ministro da Saúde, Arthur Chioro.


Luana Lima
Repórter


Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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