sábado, 24 de janeiro de 2015

Cascavel: O barro como meio e fim

O Mataquiri Museu, em Cascavel, será inaugurado hoje, com o intuito de preservar a cultura do barro

O termo "mataquiri" é uma homenagem ao maior pico de Cascavel, uma serra homônima, próxima ao povoado da Moita Redonda, que tinha importância mitológica para os índios e, depois, tornou-se referência geográfica para os jangadeiros que cruzavam o litoral leste do Estado. Com o objetivo de institucionalizar e fortalecer a cultura do barro em Cascavel, o Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro inaugura, hoje, no povoado, o Mataquiri Museu, a partir das 15h, com a apresentação do espetáculo "Sensorial", contemplado no ano passado com o IX Edital Ceará de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult).

O museu fica localizado em um sítio, próximo à Rodovia Plácido Castelo, depois da CE-040. E utilizará a estrutura de uma casa com arquitetura de 1928 e telhado artesanal. No mesmo terreno, encontra-se uma casa de taipa onde a Orquestra de Barro costuma realizar seus ensaios.

O barro dessa região de Cascavel, município situado a 62 km de distância de Fortaleza, é dotado, historicamente, de incrível potencial transformador. Ciente dessa cultura e curioso para estudar e explorar o uso dessa matéria prima na música, há nove anos, um artista plástico, Tércio Araripe, mudou-se da Capital para a cidade da Região Metropolitana.

Três anos depois, ele e a comunidade da Moita Redonda criariam o Grupo Uirapuru, que reproduz e dissemina a música e a cultura local pelo Brasil. O meio, então, tornou-se também finalidade.

A arte secular e artesanal de confeccionar utensílios e objetos de decoração a partir do barro, tradição passada de geração em geração em Cascavel, renovou-se, ganhou novas notas e valorização.

Trajetória

Diante do projeto de Tércio, o trabalho de cerca de 60 famílias do povoado com o barro recebeu uma nova demanda e um desafio: confeccionar instrumentos musicais. Segundo o artista, primeiro foram produzidos instrumentos de percussão, como o africano udu (ou moringa), a caixa, os tambores. Depois, vieram a marimba, a arpa, o violoncelo, a viola, a flauta e até a guitarra.

Em troca, os artesãos locais são beneficiados com a exposição de suas obras. "É um trabalho conjunto, que ajudou a envolver a comunidade, uma parceria. Nosso objetivo é valorizar a cultura do barro", afirma Tércio. Com os ensinamentos do experiente músico Luizinho Duarte, em 2009, Tércio começou a recrutar jovens a partir dos 12 anos, da comunidade, para formar a Orquestra de Barro. Atualmente, o grupo conta com 18 componentes, com idade entre nove e 22 anos, que sonham em dar continuidade à carreira musical. Segundo Tércio, além da intimidade que os jovens criam com os instrumentos, eles também aprendem sobre a tradição e o uso produtivo do recurso natural.

Os instrumentos que os filhos usam são provenientes da argila recolhida por seus pais direto do Rio Malcozinhado, que também fica próximo à Moita Redonda. A transformação da matéria em obra é feita manualmente. O barro seca, é quebrado com a mão, muitas vezes amassado com o pé, moldado e levado ao forno.

Em 2013, o Grupo Uirapuru participou de uma experiência nova em sua carreira: realizar um musical. "Piu e o Acorde Mitológico" ultrapassou as fronteiras de Cascavel e também foi apresentado em Sobral e Fortaleza. Apesar do estranhamento de trabalhar com o teatro, o artista plástico responsável pelo projeto gostou e pretende voltar a fazer.

Museu

Apesar da inauguração, o Mataquiri Museu ainda não conta com uma programação definida a longo prazo. Tércio conta que espera negociar com antigos parceiros do Uirapuru, como a Prefeitura Municipal de Cascavel e o Serviço Social do Comércio (Sesc), para garantir a sistematização de um calendário de atrações. Com o espaço funcionando, ele pretende expôr peças da cultura do barro e exibir apresentações de orquestras, grupos teatrais, filmes e outras artes, em uma programação regular.

Mais informações:

Inauguração do Mataquiri Museu. Hoje (24), às 15h, com o espetáculo "Sensorial", no Povoado da Moita Redonda (próximo à Rodovia Plácido Castelo, depois da CE-040). Gratuito. Contato: (85) 8831.5441






Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (24/ 01/ 15)

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