quarta-feira, 6 de junho de 2012

Seis barcos são incendiados durante protesto em Icapuí

Restaram apenas as cinzas após a queima dos barcos apreendidos da pesca ilegal

GUERRA DA LAGOSTA´

Os "redondeiros" voltaram a fazer justiça com as próprias mãos em novo capítulo da Guerra da Lagosta

Icapuí É o fim da trégua na guerra da lagosta. Logo no início do mês, de retomada da pesca, o sumiço de um barco já capturado por pescar ilegalmente em Icapuí causou a ira dos pescadores artesanais, que haviam feito a captura meses antes como "prêmio". O roubo do barco aconteceu quando os artesanais (pescam legalmente) foram para o mar. Na volta, ao perceberem o ocorrido, eles atearam fogo nos outros barcos já capturados, um sinal claro para os pescadores ilegais não ousarem novo "afronte". A suspeita de um "traidor" corre solta na praia de Redonda. A Guerra da Lagosta, em terra e alto mar, representa um estado paralelo que tem como principal financiador o comércio (até exportação) de lagosta pescada com mergulho e marambaia, proibidos por Lei.

No episódio anterior da Guerra da Lagosta, cerca de 1.600 pescadores cearenses recebiam, no mês de maio, a licença de embarcação para a pesca da lagosta, crustáceo que é sucesso até nas mesas mais refinadas do Mundo e que tem o Ceará como maior produtor nacional.


O licenciamento foi porque desde 1º de junho os barcos puderam voltar ao mar, com o fim do defeso para a pesca do produto. Centenas de pescadores da praia de Redonda, em Icapuí, saíram com seus barcos para depositar no mar seus manzuás, gaiolas de madeira com revestimento de linhas para captura da lagosta. É o único equipamento permitido pela legislação para a pesca do crustáceo. Mas não representa muito mais da metade da atividade nas embarcações que pescam lagosta. Os pescadores da Redonda, para "compensar" a frágil fiscalização do Ibama, fazem justiça com as próprias mãos e capturam barcos que fazem a pesca ilegal.

Esses barcos são depositados na areia da praia como "prêmio" e uma comprovação de que a pesca ilegal não é tolerada naquela região litorânea. Os "redondeiros" saem para o mar no início da madrugada. E foi aproveitando a praia deserta que homens, possivelmente de outras comunidades, pegaram de volta um dos barcos, no caso do de um senhor conhecido por "Língua".
Fac-símile traz reportagem especial sobre a disputa entre pescadores legais e ilegais no Litoral Leste do Estado, como forma de controle da captura da lagosta















Cerca de 14 barcos pescando ilegalmente já foram capturados pelos redondeiros nos últimos anos. Desses, ao menos seis que ainda estavam depositados na praia foram incendiados no último fim de semana, para que não pudessem mais ser retomados à revelia dos pescadores da Redonda, conforme afirmam moradores da comunidade, que preferem não se identificar.


A rixa entre legais e ilegais é antiga, com troca de tiros em alto mar, mortes de rivais e protestos em terra que só com muita força policial foram contidos, mas mesmo assim não diminuíram em nada a rixa existente. Esses mais diversos episódios compõem a Guerra da Lagosta, termo popularizado por este jornal, por meio do Caderno Regional, que acompanha a problemática com reportagens exclusivas. A pesca com mergulho, utilizando compressores de ar, não só é proibida pela legislação ambiental como é um ato de agravo à saúde humana.



Os pescadores utilizam botijões de gás vazios como reservatórios do ar que será usado para respiração até 20 metros abaixo do barco. Por sequelas da embolia pulmonar causada pela atividade, pescadores em Icapuí já perderam parcial ou total movimento das pernas.



No entanto, a exploração econômica é o principal incentivador dessa atividade: enquanto num dia o pescador artesanal traz 20 kg de lagosta, o pescador "alternativo" recolhe 350 kg. O lucro quase 20 vezes maior se dá às custas da redução no próprio meio de sobrevivência. A pesca predatória está diminuindo a quantidade de lagosta, encarecendo o produto e comprometendo as famílias de pescadores legais e ilegais.



A outra modalidade de pesca é com marambaia, como são chamadas as estrutura metálicas (geralmente botijões de óleo esvaziados) que os pescadores jogam no mar para servir de habitat para a espécie. Os equipamentos poluem o meio ambiente, afetando diretamente as lagostas e outras espécies marinhas.



No ano passado, o Ibama apreendeu 12 barcos pescando com compressores de ar, 260 mil metros de rede caçoeira (proibida pela legislação) e quatro toneladas e meia de lagosta pescada ilegalmente. Foram apreendidos neste ano seis barcos, quatro deles com compressores de botijão de gás.



De acordo com o chefe da Fiscalização do Ibama, Rolfran Castro, o comércio ilegal da lagosta também tem sido investigado, no Interior e na Capital. O Ibama e a Companhia dos Portos estão apurando a procedência da lagosta que chega no Porto do Pecém para exportação.



Apreensão



12 barcos foram apreendidos pelo Ibama no ano passado por estarem praticando a pesca com compressores de ar. Neste ano, já foram mais seis embarcações



Mais informações:



Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama)

Fortaleza (CE)

Telefone: (85) 3307.1169



MELQUÍADES JÚNIOR

REPÓRTER




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