César Sampaio conheceu
Alemanha, Noruega e Rio de Janeiro como baterista da Orquestra de Sopros de
Pindoretama, onde ficou até 2011.
Por Thaís Jorge Fortaleza, CE
César Sampaio, jogador do Tiradentes e baterista de
Orquestra (Foto: Thaís Jorge)
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Duas das maiores paixões
de quase todo brasileiro, a música e o futebol se entrelaçam na vida de César Sampaio a ponto de ele próprio
não conseguir definir se é um jogador-baterista ou baterista-jogador. Hoje, o
rapaz de 23 anos é volante do Tiradentes.
Nesta segunda-feira (16), deve ser titular contra o Botafogo-PB, fora de casa, pelas quartas de final da Série D do
Campeonato Brasileiro.
Mas, antes da habilidade
com a bola no pé, César Sampaio trilhou, desde os 11 anos, um caminho na Orquestra de Sopros de Pindoretama,
cidade a 52 quilômetros de Fortaleza. Nascido em uma família formada por
músicos - avó, mãe, tios e irmãos tocam algum instrumento -, o volante do Tigre
da Polícia Militar chegou a se apresentar na programação cultural da Copa de Mundo de 2006, na cidade de
Hamburgo, durante o Fan Fest da Alemanha.
Nos anos seguintes, o
roteiro ficou ainda mais amplo: a Orquestra fez concertos na Noruega, em 2010,
e no Rio de Janeiro, em 2011. No Ceará, apresentou-se no Theatro José de
Alencar, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no Conservatório Alberto
Nepomuceno, em solenidades para o ex-governador do Estado, Lúcio Alcântara, e
para o atual, Cid Gomes. César, que era o baterista titular, guarda a lembrança
das andanças que só se encerraram para ele em 2011, quando migrou para outro
sonho: o futebol.
- Desde pequeno, eu era
dividido. Gostava de música e de bola. Hoje, as pessoas da minha cidade devem
me conhecer mais pelo futebol. Mas estar na Orquestra me ajudou a ser um homem
de verdade. Tem uma certa rigidez, você precisa estudar teoria musical e ir ao
colégio. Então, ajuda os jovens a serem melhores. Eu aprendi muito - lembra o
jogador.
Trajetória
Nascido em Pindoretama, César Sampaio começou a
jogar futebol quando criança em um sítio alugado pela família. Apesar dos
avisos ao pai de que o menino teria futuro no esporte, só encontrou, de fato,
um clube de forma tardia, aos 22 anos. Antes, porém, seguiu os mesmos passos de
muitos dos familiares: ser músico. A avó era sanfoneira, assim como os tios, a
mãe Maria de Fátima Sampaio toca surdo, enquanto os dois irmãos e as duas irmãs
se dividem em sax alto, violino e surdo.
César Sampaio e a
Orquestra no Theatro José de Alencar (Foto: Arley França/ Arquivo Pessoal)
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Inspirado em um dos
irmãos, César tomou o mesmo caminho. O Maestro Arley França, músico e pedagogo,
idealizador e fundador da Orquestra, lembra que, desde cedo, o hoje jogador já
chamava atenção e se destacava, por ser 'pequenininho' na época e bastante
talentoso.
“Ele sempre foi
dedicado, disciplinado." Arley França,
maestro da Orquestra
- Há uma prática que os
alunos que iniciam na percussão, com o passar do tempo viram o baterista
titular da Orquestra. Foi assim com o César. Em 2006, ele foi o baterista na
programação da Copa do Mundo da Alemanha. Em 2010, ele foi para a Noruega. Em
2011, ele viajou para o Rio de Janeiro. Como músico, ele sempre foi dedicado,
disciplinado, que são características importantes não somente para a música,
mas também para o futebol - elogia Arley França, maestro da orquestra que
existe desde 1999 e é mantida pela Associação dos Amigos da Arte (Aamarte).
Valorização como músico
Por conta dos concertos
no exterior, César andou pela primeira vez de avião, experimentou o tempo frio
e as comidas diferentes da Europa, conheceu um público que valoriza o trabalho
dos músicos das mais variadas nacionalidades.
- Na Alemanha, como as
pessoas iam para ver o jogo, tocávamos o Hino Nacional Brasileiro, além das
músicas brasileiras. Na Noruega, ficamos quinze dias tocando em restaurantes e
em praças. Senti que fomos mais valorizados que no Brasil. Não estou dizendo
que aqui as pessoas não vibram, mas lá é demais - compara.
Xote, frevo e MPB
entraram na lista dos ritmos e gêneros musicais preferidos do menino. No som,
Roupa Nova, Caetano Veloso e Ana Carolina também estão entre os especiais.
Luizinho Duarte, músico, compositor, arranjador, baterista e violonista, também
é referência dele. César Sampaio formou ainda, em paralelo, o Grupo Quixote,
juntamente com amigos, onde ficou até se mudar para Fortaleza para jogar
futebol. Hoje, ele mora na sede do Tiradentes, no bairro Antônio Bezerra.
César Sampaio e a Orquestra
de Sopros de Pindoretama na Alemanha (Foto: Arley França/ Arquivo Pessoal)
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Presente e futuro
Após um mês de testes no
Tiradentes em 2012, o hoje volante ficou de vez na equipe ainda comandada por
Danilo Forte, treinador do Tigre da PM à época. Foi reserva no Campeonato
Cearense do ano passado, sendo depois emprestado ao São Benedito, que disputava
a segunda divisão do Estadual. Com a equipe do Interior, conquistou acesso para
a elite.
Em 2013, ficou titular
do Tigre no Cearense, mas o ano vem sendo marcado por contusões no tornozelo,
no joelho e na região do púbis. Retornou há cerca de um mês para a equipe do
técnico Danilo Augusto e, nesta segunda-feira, terá oportunidade como titular contra
o Botafogo-PB na vaga de Válter.
- Ninguém acreditava no
Tiradentes. A gente era como a zebra do campeonato. Nós somos guerreiros mesmo.
Você sabe que condições e dinheiro não temos. Não temos campo para treinar,
então tem de ser fora. Não há dinheiro para incentivar os atletas como em
outros times. Então, é só na vontade mesmo. A gente sabe que tem de ir em busca
de algo melhor na carreira e isso só acontece se o Tiradentes subir para a
Série C - acredita.
No futuro, não é difícil
descobrir a que o volante quer se dedicar.
- Penso em ajudar a
minha família. Dois sonhos que eu tinha, eu já consegui: tocar e jogar futebol.
Também quero ir para um time melhor e, mais no futuro, voltar para a música de
novo. Penso em estudar música, dar aulas, fazer um estúdio igual a esse daqui
(como o do Conservatório Alberto Nepomuceno, local da entrevista). Minha mãe
fala para eu ir logo organizando um estúdio, para quando acabar a carreira ter
algo certo - brinca.
- A busca pela perfeição
e o treino deixam a música e o futebol muito próximos. A disciplina e a força
de vontade que o César Sampaio demontra hoje, ele já tinha na época da
orquestra - finaliza o maestro Arley França, mostrando que o sonho de voltar
para música será para o volante, pelo visto, um destino certeiro.
Atleta atuando contra o
Ferrão este ano (Foto: Reprodução/ Facebook / César Sampaio)
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Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/tiradentes/noticia/2013/09/musico-volante-do-tiradentes-ja-tocou-em-orquestra-na-copa-de-2006.html
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