domingo, 23 de novembro de 2014

Três realidades diferentes completam a Estrada do Fio (Fortaleza – Eusébio – Aquiraz)

A pista foi construída para que a rede de telégrafos pudesse ser levada de Fortaleza até Aquiraz, no século XIX


Ao longo da Estrada do Fio, é possível encontrar realidades diferentes de acordo com cada um dos três municípios - Fortaleza, Eusébio e Aquiraz - pelos quais a via passa. Enquanto, no início, a urbanização é evidente, na segunda parte da via, as casas e sítios que não estão abandonados foram postos à venda. Já no fim, há a falta de água, problema causado pela estiagem.

Na parte da estrada que fica na Capital, tudo é bastante urbanizado, com um grande número de casas e estabelecimentos comerciais, até mesmo próximo do ponto turístico do local, o Centro das Tapioqueiras, localizado na CE-040. O reflexo disso é a melhoria da qualidade de vida da população, ressalta o comerciante Barcelar do Nascimento, que já completou 12 anos de moradia às margens da via.

"A Estrada do Fio está crescendo bastante. Temos muitas construções sendo feitas e várias lojas sendo abertas. Por isso mesmo que precisamos que a estrada seja alargada, faz muito tempo que esperamos essa mudança", exigiu o comerciante.

A pista tem sido a vizinha da dona de casa Miriam Ribeiro Silva nos últimos 24 anos. Ao contrário dos primeiros anos, hoje, ela não gosta mais de residir no Bairro Olho d'água, no Eusébio. "Com o passar do tempo, foi tudo piorando. Agora está muito perigoso, tanto que não temos sossego nem em casa".

Até mesmo as condições do asfalto pioraram nos últimos anos, lembrou Miriam. Em alguns trechos, principalmente naquele município, quase não se vê mais o piso e, por isso, os motoristas são obrigados a trafegar sobre pedras que acabam prejudicando os veículos.

A situação ruim é refletida no grande número de casas e sítios colocados à venda naquela parte da autopista. Além disso, é grande o número de locais que deveriam abrigar comércios e estão completamente abandonados.

No fim da estrada, já na cidade de Aquiraz, as construções, sítios e lojas são quase inexistentes. Eles dão lugar a pequenas casas e muito matagal. No bairro Tupuiú, onde a comerciante Lélia Teixeira mora há dez anos, a maior preocupação nos últimos meses é a falta d'água. "Aqui, a Cagece não chega. As 30 casas que ficam nessa área vivem do carro-pipa que a Prefeitura manda uma vez por semana".

Como apenas a ajuda do poder público é insuficiente, ela disse que a população se juntará para pagar a escavação de um poço profundo. Cada morador terá que desembolsar R$ 700 até o mês de dezembro para que a obra seja feita. "Só assim mesmo para não termos que comprar água todos os dias", ressalta.

Telégrafos

A Estrada do Fio tem importância na expansão de Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), pois, no século XIX, era por lá que passava a rede de telégrafos até Aquiraz, que foi a primeira Capital do Estado. "Até os anos 80 ainda existiam os postes por onde passavam os fios do telégrafo", conta o poeta e escritor do livro "Messejana - Um lugar mágico", Edmar Freitas.

Até o século XX, a pista era utilizada como o principal acesso a todo o litoral leste do Ceará, comentou Freitas. "Infelizmente o povo não valoriza essa questão histórica. Ainda mais com a correria dos dias de hoje", ressalta.

Apesar de ter sido um pouco esquecida após a modernização da CE-040 e de quase tudo ao seu redor, a via continua sendo bastante relevante, na avaliação do professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Observatório das Metrópoles, José Borzacchiello da Silva.

"A estrada continua sendo importante, pois ela funciona como via alternativa. Ela apresenta um habitat original que, mesmo com as transformações recentes do espaço metropolitano, preserva aspectos do modo de vida dessa porção localizada entre o mar, dunas, lagoas e rios", destaca o professor.

Carro-pipa

A assessoria de comunicação da Prefeitura de Aquiraz informou que o município está em estado de emergência. Para a localidade de Tupuiú são fornecidos 7.500 litros de água semanalmente por um carro-pipa, foi construído um chafariz e feita a escavação de poço profundo.

Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura do Eusébio para esclarecimentos sobre a pavimentação.

Rádio Observatório surpreende motoristas

Após motoristas e ciclistas passarem pela ponte sobre o Rio Coaçu, já se localizam na parte da Estrada do Fio que pertence ao município do Eusébio. Depois de trafegar um pouco, é possível observar facilmente uma grande antena no meio de várias árvores. Significa que o condutor está próximo do Rádio-Observatório Espacial do Nordeste (Roen), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Naquele local, são desenvolvidas atividades relacionadas com pesquisas nas áreas de Geodésia Espacial, Geodinâmica, Geomagnetismo, Astrofísica, Física da Ionosfera e Processamento Inteligente de Sinais.
Os trabalhos relacionados a essa última atividade são desenvolvidos pelo Projeto de Cooperação Técnico-Científica suportado pelo convênio entre o Instituto e a Universidade Federal do Ceará (UFC).

O Programa de Geodésia Espacial foi inicialmente coordenado pelo Centro de Rádio-Astronomia e Aplicações Espaciais (Craae), que instalou a antena e toda a instrumentação. O Roen é atualmente coordenado pelo Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica da Universidade Presbiteriana Mackenzie (Craam).

Thiago Rocha
Repórter


Fonte: Diário do Nordeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário