domingo, 19 de abril de 2015

Aquiraz: Índios Jenipapo-Kanindé adotam agroecologia nas técnicas de cultivo

Comunidade Jenipapo-Kanindé substitui práticas como queima do solo e adota técnicas sustentáveis. Expectativa é de aumento da colheita
Fábio Alves cultiva a terra com técnicas sustentáveis
A esperança do índio Francisco Maurício é de que as próximas colheitas sejam fartas e que o roçado, antes queimado para receber a plantação, esteja saudável com as novas técnicas de cultivo. Ele faz parte da comunidade Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, atendida pelo projeto Matas da Encantada.


O projeto, desenvolvido pela Associação para o Desenvolvimento Local co-produzido (Adelco) com o patrocínio da Petrobras, é experimental e tem o objetivo de promover a consciência ambiental e práticas agroecológicas como opções sustentáveis de produção de bens e serviços.



Antes do projeto, a comunidade explorava o solo com práticas tradicionais, queimando e desmatando o roçado. Dava resultados rápidos no primeiro ano, mas depois disso a terra se tornava menos produtiva, diminuindo a quantidade de alimentos colhidos e causando erosão.



Atualmente, os índios usam técnicas de reflorestamento. Cada hectare terra deve conter 200 árvores. Essa vegetação, que antes era cortada e tinha os galhos queimados, é deixada no terreno para sombrear as plantações e ajudar na fertilização do solo. As folhas que caem, ao se decompor, ajudam no ciclo de nutrientes. Galhos são cortados em pequenos pedaços e servem como adubo.



Os animais também são importantes. Antes, quando o pasto secava, os índios os deixavam no terreno agrícola e eles danificavam a lavoura. Agora, quando milho e feijão forem colhidos, os animais entrarão no local para se alimentar dos restos de plantação e ajudar na fertilização com o esterco produzido. Depois, voltam ao terreno pastoril.



A Adelco fez palestras e oficinas para ensinar os índios a plantar sem degradar o solo. Davi de Alencar, agrônomo da Adelco, conta que, no início, os índios tiveram receio. Mas, ao verem os primeiros resultados, ficaram esperançosos.



Na prática


No fim de 2014, a comunidade começou a preparar a terra com as novas técnicas. Em 22 de fevereiro, fizeram as primeiras plantações. Tudo o que é colhido é para a subsistência da aldeia.



O engenheiro agrônomo Ambrósio de Araújo ajudou a implantar o projeto na comunidade. Ele afirma que a média de produção usando as técnicas tradicionais de queima do solo era de 2,4 kg de grão por hectare. Com as novas técnicas a produtividade chega a 500 kg de grão/hectare.



“Isso não é uma estimativa. São resultados que já comprovei em outras comunidades em que foram implantadas as mesmas técnicas”, afirma.(Lérida Freire, especial para O POVO)


Saiba mais


Antigas técnicas.


O solo era queimado e, com o tempo, ficava improdutivo. Árvores eram derrubadas e os galhos eram queimados.



Quando o pasto secava, animais eram levados ao lugar da plantação. Danificavam a lavoura e desequilibravam o processo de colheita.



Novas técnicas


O solo não é mais queimado. Produtos como bagana de carnaúba retém água da chuva e deixam o solo úmido. Árvores dão sombra à lavoura e as folhas que caem nutrem o solo.



Os animais, antes prejudiciais, ajudam. Após a colheita, serão colocados no terreno agrícola para se alimentar dos restos de plantação. O esterco liberado ajudará a nutrir o solo.



Fonte: Cotidiano – Jornal O povo (18/ 04/ 15)

Nenhum comentário:

Postar um comentário