sábado, 12 de abril de 2014

CE na rota internacional do tráfico de pássaros

 Questão cultural dificulta o combate no Estado; apenas ontem, Ibama apreendeu 3.500 avoantes




O tráfico de animais silvestres está entre os três mais rentáveis do mundo, só ficando atrás do mercado ilegal de drogas e armas. O Ceará entra na rota internacional desta atividade como um dos principais fornecedores, principalmente de aves, para consumidores do exterior e também internos, como de São Paulo e Rio de Janeiro. O Estado possui ainda uma particularidade quando o assunto é mercado ilegal de aves: a caça das avoantes, que são aves migratórias comuns na Região Nordeste. 
Ontem, inclusive, cerca de 3.500 delas foram apreendidas já abatidas durante operação realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em parceria com a Polícia Militar do Ceará, na Região dos Inhamuns, nos municípios de Parambu, Tauá e Aiuaba. Na ocasião, 22 pessoas foram presas por envolvimento em crime ambiental e devem pagar R$ 500 de multa por cada ave apreendida. 
As avoantes estão em período de reprodução e, por isso, como afirma o chefe do escritório regional do Ibama em Iguatu, Fábio Bandeira, se tornam uma presa fácil durante a noite, pois voam menos e ficam mais concentradas nos arredores dos ninhos nessa época. 
Segundo Bandeira, apesar do grande número de prisões, muitos caçadores ainda conseguiram fugir, mas a operação seguirá com fiscalização intensa na região e em busca dos suspeitos por cerca de 60 dias, período em que as aves ainda estarão em período de reprodução. Cerca de oito caçadores presos são naturais do Piauí e estavam no Ceará para a prática o crime. Nos estados nordestinos, o enfrentamento deste tipo de crime tem sido difícil. Os órgãos ambientais fiscalizam, há punições, mas existem também questões culturais que dificultam o combate, como o hábito de criar pássaros sem respeitar a legislação e as feiras livres. 
É delas, como afirma o analista ambiental do Ibama (Ceará), Alberto Klefasz, que vem a maioria dos animais apreendidos pelo órgão. Mensalmente, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) recebe 450 animais, sendo aves a maioria. “Dessa quantidade, 80% são apreensões do Ibama, a maioria é bicho retirado de feiras e os outros 20%, denúncias da população”, certifica.
As feiras também não são locais apropriados para estes bichos, já que eles precisam de cuidados e ambientes adequados. Muitos deles morrem no local por desidratação e maus tratos. Para cada animal que chega vivo nas feiras, nove morrem, afirma o Ibama. 

Transporte

Muitas vezes, o mercado popular é apenas o começo de uma longa viagem. Segundo o Ibama, é comum os Correios entrarem em contato com o órgão por perceberem o transporte de animais dentro de caixas. Normalmente, são répteis dopados e mais fáceis de levar. 
A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de transporte de seres vivos. Denúncias podem ser feitas para o Ibama (0800.618.080) ou através da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace)– (0800.2752.233 ou 3101-5512). 

Criadores devem ter autorização

Hábito que faz parte do cearense, a criação de aves necessita de atenção especial. Para agir de acordo com a legislação, é preciso ficar atento às origens do animal. Assim como cachorros, os pássaros precisam de cuidados e atenção dos seus donos.
A lei determina que os animais silvestres sejam comprados em criadouros autorizados pelo Ibama tenham a nota fiscal e, no caso das aves, que venham com anilhas de identificação. 
“O comprador deve ter consciência das necessidades do animal que ele está levando pra casa. Ter um espaço adequado, dar a possibilidade de boa saúde e alimentação”, afirma Roberto Cavalcante, assessor do setor de defesa de fauna da diretoria de fiscalização da Semace.
Para os fins amadores, cada cidadão só pode possuir em sua residência o limite máximo de 100 aves, independentemente de constar com a documentação exigida pelo o Ibama.
Aqueles que desejam ser criadores autorizados precisam entrar em contato com o órgão responsável e preencher os quesitos exigidos. O primeiro passo é realizar o cadastro no site do Ibama (www.ibama.gov.br). Depois, a pessoa passa por avaliações e é encaixada em alguma das categorias.
No Ceará, são 23 criadores autorizados. Reinaldo Leite Viana Neto é um deles. O veterinário e proprietário de um pet shop começou a receber aves apreendidas em 2002 e, atualmente, possui 260 pássaros, entre araras, periquitos e até tucanos.
“Se quisesse receber mais aves todos os meses, poderia, mas o gasto para mantê-las bem cuidadas é muito alto”, afirma Reinaldo. Quando os pássaros chegam ao local destinado, precisam de cuidados especiais, pois na maioria das vezes foram vítimas de maus-tratos e estão e debilitados. Depois de tratadas, as aves passam por avaliações para determinarem se elas permanecerão no viveiro ou se poderão ser devolvidas para a natureza.
O veterinário conta que, normalmente, os animais ficam nas reservas. “A maioria deles vem mutilada e com muitos traumas. Os filhotes quase nunca conseguem regressar à natureza, quando eles observam os pais sofrendo, absorvem isso pra si”, relata.

Doméstico

Nem todos os animais precisam ter autorização do Ibama. Calopsitas, periquitos australianos, avestruzes e emas são considerados aves domésticas, se enquadrando na mesma categoria que gatos e cachorros.
O órgão responsável pela fiscalização da venda desses animais é o Ministério da Agricultura, que deve regulamentar os estabelecimentos de comércio.


Fonte: Diário do Nordeste

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