Conhecido como
"Havaí do Kitesurfe", o litoral do Ceará é perfeito para o esporte
por causa da temporada de ventos que vai de julho a dezembro
Dariusz Marchewka se
apaixonou por Trairi, localizado a 140 km de Fortaleza, quando viajou de férias
em 2008. O polonês conheceu vários países enquanto praticava kitesurfe, mas foi
no Ceará que encontrou seu paraíso. Montou uma pousada e uma escola da
modalidade, na praia de Guajiru. E, hoje, ele é a ponte para a vinda de
europeus ao estado todos os anos, sempre no 2º semestre. Ávidos pelos fortes
ventos que atingem a costa de julho a dezembro.
A temporada dos ventos
atrairá de 10 mil a 15 mil turistas estrangeiros até o fim do ano. A
estimativa é da Associação Cearense de Kitesurf (ACK), que indica o Ceará como
o estado que hospeda o maior contingente de praticantes desse esporte. “Piauí e
Rio Grande do Norte também recebem fortes ventos, mas um tem costa pequena e o
outro não possui uma infraestrututa tão desenvolvida”, aponta o vice-presidente
da entidade, Humberto Ary.
Não é à toa a fama
cearense nesse esporte, criado na década de 1990. Pesquisa no Google pelos
termos “kitesurf” e “Ceará” indica mais de 560 mil citações em sites. Isso
tornou o estado um “Havaí do Kitesurfe”, referência de surfe concedida aos
pontos de prática de kite mais conhecidos no mundo. “Os ventos com direção do
mar para a costa, comuns em todo o litoral com exceção da região de
Jericoacoara, fazem com que a prática seja segura”, explica.
A invasão estrangeira
proliferou uma infraestrutura hoteleira especializada no kitesurfe. Nos 578 km
de litoral, pelo menos 15 praias se tornaram points da prática (veja
lista abaixo). Nelas, nos últimos anos surgiram dezenas de pousadas, muitas
delas abertas por imigrantes. Foi um desenvolvimento espontâneo, baseado no
interesse de empresários em investir no turismo da modalidade. “Alguns desses
visitantes chegam a vir duas vezes por ano ao país”, surpreende-se Dariusz.
O entrave ainda é a
ausência de voos que liguem o estado diretamente aos países com grande número
de praticantes. Caso dos Estados Unidos, origem de 10% dos kitesurfistas que
viajam ao Ceará. Com isso, cerca de 80% dos visitantes são da Europa, que conta
com voos periódicos a partir de Portugal e Itália. “Ainda assim são voos caros,
mesmo para os padrões europeus: cerca de 1.000 euros (R$ 3.100)”, atesta o
vice-presidente da ACK.
Em geral, cada kitesurfista
passa de duas semanas a um mês no Ceará. E gasta uma média de R$ 250 por
dia, 50% com hospedagem e o restante com alimentação. Não há estudo preciso,
mas baseado no cálculo de 15 mil turistas, essa é uma indústria que movimenta
pelo menos R$ 60 milhões por temporada de ventos. “O turismo do kitesurfe
poderia ganhar a mesma importância que o esqui na neve tem para cidades com
estações em montanhas”, comenta Humberto.
Para isso, bastaria que
Governo do Estado e prefeituras enxergassem o potencial econômico, e soubessem
divulgá-lo em outros estados e no exterior. Procurada peloTribuna do Ceará, a
Secretaria de Turismo do Ceará não possui pesquisa sobre os turistas que
visitam o estado para a prática de kitesurfe. Mesmo os dados desta reportagem
são apenas da ACK.
“A gente já sugeriu que
fosse feita uma checagem com cada estrangeiro que desembarca no aeroporto, mas
a ideia não foi pra frente”, revela Humberto. O Ceará foi premiado pela
natureza com sol durante o ano inteiro, mares quentes e ventos que chegam a
60km/h – condições ideais para o kitesurfe. Estrangeiros já descobriram isso.
Falta agora aos cearenses desfrutarem economicamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário